São Paulo, sexta-feira, 28 de abril de 1995
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Fiorentino reinventa a linha dura nas telas

ZECA CAMARGO
EDITOR DA ILUSTRADA

Uma nova estrela para a temporada? Aqui vão alguns elogios para Linda Fiorentino: " 'Femme fatales' de Nikita a Sharon Stone deveriam se sentar e se curvar para Fiorentino" ("Rolling Stone"); "Fiorentino é uma magnética devoradora de homens" ("Entertainement Weekly"); "Fiorentino dá um ótimo retrato do que é malícia sem causa" ("The New Yorker").
Fora isso, ela está na capa do especial de cinema na "Vanity Fair" deste mês como destaque da próxima geração de talentos.
O jornal "New York Times" a cobriu de elogios e a revista nova-iorquina "Paper" considerou sua atuação como uma mistura de Kathleen Turner em "Corpos Ardentes", Anjelica Huston em "Os Imorais" e Sharon Stone (bis!) em "Instinto Selvagem".
Talvez isso não sirva para te convencer. Então vá ver "O Poder da Sedução", que entra hoje em cartaz em São Paulo.
Mesmo descontando o brilho da direção de John Dahl (do ótimo "Assassinato por Encomenda", disponível em vídeo), a força de Fiorentino salta a todo momento da tela. Ou melhor, ela se joga.
Enquanto Jamie Lee Curtis tem que ser carregada por um helicóptero para mostrar uma performance arriscada, Linda só precisa acender um isqueiro.
No quesito "fatalidade", só a união entre a Glenn Close de "Atração Fatal" e a Demi Moore de "Assédio Sexual" poderia chegar perto de Linda.
Fora da competição do último Oscar por uma questão técnica (leia texto abaixo), ela nem sequer precisou de uma nomeação dessas para chamar atenção da crítica.
Não que a concorrência andasse muito forte. Apesar de aparecer nas telas há pelo menos uns dez anos (alguém lembra dela em "Depois de Horas"?), a galeria de rostos novos anda tão fraca que este parece ser o momento perfeito para Linda estourar.
Sandra Bullock ("Velocidade Máxima"), Mira Sorvino ("Barcelona"), Drew Barrymore (a crescida garota do "E.T.") e Janeane Garofalo não viraram muita coisa.
E Patricia Arquette ("Amor à Queima-Roupa") tem que provar que a falta de talento da sua irmã Rosanna não é coisa de sangue.
Sobrou para Linda Fiorentino.
Ministros de Economia poderiam aprender alguma coisa sobre escrúpulos com ela. Para Fiorentino, a expressão ultraclichê "fria e calculista" ganha novo sentido.
Não é possível que ela interprete tão bem o papel da malvada Bridget Gregory sem ter pelo menos um daqueles traços cruéis na sua verdadeira personalidade.
Como o próprio diretor Dahl disse, "Linda viu o potencial do papel e reconheceu que ela poderia se divertir com aquilo".
Fiorentino tem no rosto aquela velha expressão de professor de ginástica de colégio que parece que diz "sorrindo eu estou ferrando". Sua prioridade é ela mesma.
Esse egoísmo involuntário vinga até o final de "O Poder da Sedução". Não se preocupe que ninguém aqui vai tirar a graça de você assisti-lo, até porque adivinhar o fim de um filme de Dahl é difícil.
Basta dizer que seu sorriso sutil está acima da revelação do desfecho. Ela sabe muito bem o que comemorar.
Durante todo o filme, Linda faz você oscilar sua torcida. Às vezes sua vontade é de que ela se dê bem. Mas a atriz também gosta de provocar seu sadismo para você querer que ela seja apanhada.

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