São Paulo, sexta-feira, 28 de abril de 1995
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'O Poder da Sedução' aposta na amoralidade

FERNANDA SCALZO
DA REPORTAGEM LOCAL

Linda Fiorentino como mulher má em "O Poder da Sedução" põe no chinelo qualquer assédio sexual de Demi Moore. Mas nem por isso a atriz pôde concorrer ao Oscar este ano.
O diretor John Dahl vendeu o filme para a HBO, TV a cabo norte-americana, que o exibiu antes dos cinemas. Isso impediu que "O Poder da Sedução" concorresse aos prêmios de Hollywood.
Mesmo que grande parte da crítica dos Estados Unidos defendesse a atuação de Fiorentino no papel da gélida Bridget Gregory como a melhor do ano passado.
Bridget é gélida só de coração, no mais a ambiciosa vendedora de seguros é pra lá de quente. Com essa arma, ela convence seu marido Clay (Bill Pullman), um médico malsucedido, a fazer um bem-sucedido negócio de cocaína, roubada de um hospital.
Bem-sucedido para ela, que foge com o dinheiro todo e vai parar em Beston, uma cidadezinha perto de Nova York.
Entediada e impossibilitada de ir mais longe com a fortuna roubada do marido trouxa, Bridget arruma um outro trouxa para livrá-la do primeiro.
Também o jovem e ingênuo Mike (Peter Berg) vai se envolver em negócios escusos, embalado pelo poder da sedução de Bridget. O interiorano Mike, que já havia desistido de suas ambições, nunca poderia imaginar que as mulheres fossem tão sórdidas.
O enredo básico de "O Poder da Sedução" não foge muito dos filmes sobre mulheres fatais: gostosa usa sexo para escravizar homens ingênuos e conseguir dinheiro, fama ou seja lá o que queira. Mas o filme de John Dahl consegue, além de trazer surpresas no enredo, manter um ritmo bastante tenso.
Linda Fiorentino está de fato muito bem no papel da mulher sem escrúpulos e, melhor ainda, sem nenhum trauma ou razão que justifique sua desonestidade -o que faz dela uma personagem bem mais autêntica do que as problemáticas vilãs de Hollywood.
Bridget quer ter dinheiro, viver bem, só isso. Entre suas tramóias, ela convence senhoras maltratadas pelos maridos a mandar matá-los para se tornarem viúvas alegres com o dinheiro do seguro. Fica com uma pequena comissão.
O diretor John Dahl ("Red Rock West" e "Kill Me Again") tem, entre outros méritos, o de levar até o fim sua cruzada pela amoralidade, coisa rara nas produções atuais.
Assim como alguns personagens de Quentin Tarantino, sua "femme fatale" desconhece a culpa, o remorso, a compaixão -e nem por isso deixa de ser humana.
Aclamado pela crítica norte-americana como o atualizador do "film noir", Dahl não se deixa dobrar pelo sistema de Hollywood. Ainda que, tendo que apelar para as TVs (seus dois primeiros filmes também foram co-produzidos pela HBO), tenha ficado de fora da corrida do Oscar.

Filme: O Poder da Sedução
Produção: EUA, 1993
Direção: John Dahl
Roteiro: Steve Barancik
Elenco: Linda Fiorentino, Bill Pullman, Peter Berg
Estréia: hoje no Olido 1 e Top Cine

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