São Paulo, sexta-feira, 28 de abril de 1995
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O risco da freada

Com as medidas adicionais de restrição ao crédito ontem adotadas, o governo dá mais um passo na sua batalha contra o crescimento do consumo, que considera excessivo. As causas da preocupação são óbvias: uma demanda de bens superior à produção pressiona a inflação, e um alto nível de consumo aumenta as importações e agrava o desequilíbrio nas contas externas.
Face aos vários indícios de que o nível geral de atividade econômica está mesmo alto, parecem ter sido superadas as divergências que existiam entre a Fazenda e o Planejamento quanto à necessidade de novas medidas anticonsumo. Constatado o problema, porém, avalia-se que são relativamente limitados os instrumentos para enfrentá-lo.
A taxa de juros, instrumento clássico para forçar a desaceleração da economia, encontra-se em patamares tão absurdos que elevá-la ainda mais é impensável. E as restrições impostas ao crédito bancário convencional já são bastante rigorosas para que o governo possa endurecê-las ainda mais.
A alternativa restante é a de fechar as frestas pelas quais se infiltram mecanismos alternativos de crédito. Um deles, o chamado cheque especial (na prática, um empréstimo que cada banco concede automaticamente a clientes que preencham determinados requisitos), acabou sendo um dos principais alvos das medidas de ontem, bem como a limitação ao financiamento de cheques pré-datados.
O governo parece apostar em que os consumidores se retrairão nas compras ou por não poderem emitir, com a mesma facilidade, cheques que só serão descontados mais adiante ou para não pagarem o novo patamar dos juros.
O remédio adotado é amargo, como é óbvio. A alternativa, no entanto, seria ainda mais amarga: a volta da inflação e seus efeitos deletérios. O problema é comprovar, na prática, se as medidas adotadas nos últimos tempos, sempre com o objetivo de conter o consumo, não se constituirão em uma overdose.
Desacelerar a economia, quando ela está em velocidade excessiva, é necessário. Ao fazê-lo, corre-se sempre o risco de empurrar o país, não para uma mera desaceleração, mas para uma retração, até porque o resultado de cada ação não fica claro de imediato. A sintonia fina, nessa questão, é essencial.

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