São Paulo, sexta-feira, 28 de abril de 1995
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De apostas e conspirações

CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO - Perdeu quem apostou na iminência de mudanças ministeriais na área econômica (em outras áreas, não sei). José Serra (Planejamento) e Pedro Malan (Fazenda) ficam exatamente onde estão, jura-se no Palácio do Planalto.
Os líderes parlamentares do governo, sem informações que lhes permitam juras tão firmes, pelo menos asseguram que não há sinais de mudanças à vista.
De todo modo, as especulações parecem ter espicaçado os dois ministros. Malan passou a semana tentando provar que é o que não é, ou seja, agressivo, bravo.
"Coveiros do real" e "catastrofistas" são expressões que não cabem no léxico habitual do ministro.
Serra, ao contrário, teve que se empenhar para demonstrar que é José Serra e não Aloizio Mercadante ou qualquer outro economista de esquerda disposto a enterrar a privatização.
Se os dois ficam, nem por isso desapareceram as divergências, até porque não parecem tão espetaculares a ponto de justificar um grito de "ou eu ou ele". Aliás, Serra convenceu-se de que FHC jamais lhe dará o comando exclusivo da economia. Não sei se é fato ou apenas parte das paranóias que às vezes habitam a cabeça do ministro.
O que vale é que Serra acha que, se gritasse "ou ele ou eu", FHC responderia: "ele".
Mais sério, porque colisão de egos, é o conflito surdo entre as duas equipes ou entre algumas de suas cabeças coroadas. Serra, por exemplo, continua não engolindo Gustavo Franco, o diretor da Área Externa do Banco Central, nem que Franco se pinte de verde, amarelo, azul e branco.
Por isso, é razoável supor que as apostas ressurjam mais adiante. Afinal, na segunda-feira, sob a assinatura de ninguém menos do que Gilberto Dimenstein, a Folha informava: "O ministro da Fazenda, Pedro Malan, atribuiu ontem os rumores divulgados na imprensa de que sairia do governo a boatos espalhados por um ministro".
Malan não deu o nome do ministro, mas sua assessoria apressou-se a apontar o dedo para Sérgio Motta (Comunicações), tido como forte aliado de Serra.
O curioso é que essa informação não fez Brasília ferver. Parece que a corte tucana considera muito normal um ministro conspirar contra outro.

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