São Paulo, sexta-feira, 28 de abril de 1995 |
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Superilusão Há quatro semanas, a Caixa Econômica Federal (CEF) lançou uma nova loteria: a Supersena. Ainda não houve ganhadores, e o prêmio acumulado de R$ 15 milhões atraiu nesta semana um grande número de apostadores. O preço do bilhete é o maior de toda a miríade de loterias existentes, e a probabilidade de tirar a sorte grande jogando com um só volante é de apenas 1 em 12,2 milhões. Nada disso parece desanimar os milhares que se deixam iludir pela proposta da fortuna instantânea e sem nenhum esforço. Muito se falou na mídia sobre essas pessoas. Não pertencem, como se poderia supor, unicamente às classes menos favorecidas, que não teriam outros recursos para sonhar com a fortuna. Vários chegam a "investir" centenas de reais na esperança do dinheiro fácil. Quando perdem, não desanimam -fica por conta da má-sorte- e continuam esperando seu dia chegar. Deveria causar reflexão o fato de que, ao mesmo tempo em que o Planalto solicita ao consumidor que não se deixe levar pela ilusão de um falso poder aquisitivo baseado no endividamento, o próprio governo venha tentá-lo com a remotíssima promessa de que pode ganhar muito sem trabalhar. A explicação para o enigma é fácil: o único que ganha com certeza em todos os bilhetes de loteria é justamente o governo, que nem mesmo precisa apostar. Basta-lhe apenas estimular ainda mais a lamentável cultura de que a fortuna está ao alcance de todos, sem esforço, pois depende apenas de sorte. Texto Anterior: Seguro pela metade Próximo Texto: De apostas e conspirações Índice |
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