São Paulo, sábado, 29 de abril de 1995
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Primeiros casais mistos foram hostilizados

THAÍS OYAMA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Eles chamavam a atenção por onde passavam. Alguns só entravam no cinema quando a sala estava escura. Quando o então capitão-de-corveta Joaquim Januário de Araújo Coutinho Netto passeava por Copacabana de braços dados com a então estudante de economia Kiko Komatsu, em 1952, o Rio de Janeiro parava.
"Eu ficava constrangida, todo mundo olhava para nós", conta a hoje dona-de-casa Kiko, casada há 42 anos com o hoje almirante da reserva Coutinho Netto. O casamento está entre as primeiras uniões nipo-brasileiras do país.
Na época, o romance até que foi bem aceito pelos pais da garota. Duas coisas contribuíram. A irmã mais velha de Kiko já havia se casado com um brasileiro. Depois, ex-combatente que era (participou da ocupação da Manchúria pelo Japão, em 1931), agradava ao pai de Kiko ter um genro militar.
Mas as coisas foram bem mais difíceis para aquele que é considerado o primeiro casal nipo-brasileiro do país: Kwaneichi e Hermengarda Takeshita, já mortos.
Ela, filha de família tradicional paulista, os Lemes Leite. Ele, economista político japonês formado pela Universidade de Waseda, em Tóquio. Conheceram-se em 1927, quando Takeshita, que chegou ao Brasil aos 22 anos, foi fazer um curso de português em Guatapará (SP), na escola em que Hermengarda era professora.
O casamento, em 1929, teve consequências drásticas: a noiva foi deserdada. Takeshita teve de deixar a escola onde lecionava e abrir uma charutaria.
Os dois mal podiam ir ao cinema. Em entrevista ao extinto jornal "Página Um", em 1980, Hermengarda contou: "Durante alguns anos do nosso casamento, só entrávamos no cinema quando a sala já estava escura. Tínhamos de ir embora antes de as luzes se acenderem". Takeshita e Hermengarda viveram juntos por 53 anos, até a morte dela, em 1982.
(TO)

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