São Paulo, sábado, 29 de abril de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Descobertas terão peso menor, diz médico

AURELIANO BIANCARELLI
ENVIADO ESPECIAL A SALVADOR

A saúde das populações no século 21 dependerá mais das relações do homem com seu meio ambiente do que das descobertas científicas e da sofisticação dos equipamentos médicos. A desigualdade entre ricos e pobres ameaça mais do que epidemias devastadoras como a Aids.
A opção por uma saúde pública -uma política que privilegie o bem-estar das populações- definirá a qualidade de vida do homem do próximo século.
As previsões são do professor Mervyn Susser, 73, da Universidade de Columbia e editor do "American Journal of Public Health", a mais respeitada publicação em saúde pública do mundo.
Susser é um dos principais convidados do Terceiro Congresso Brasileiro de Epidemiologia, que se realiza em Salvador (BA). O tema central do encontro é justamente a "busca da equidade em saúde pública".
"Temos cada vez maior capacidade de controlar nosso futuro, mas quanto maior forem as desigualdades, pior será o desempenho da saúde pública", disse.
Na sua opinião, "a diferença entre os que têm muito e os que têm pouco vem se acentuando".
Susser nasceu na África do Sul e foi expulso por sua militância política. Está nos EUA há 30 anos.
Como especialista em saúde pública, ele evita o prognóstico de doenças futuras.
Uma de suas preocupações é com a queda do interesse e da importância que a epidemiologia estaria sofrendo especialmente nos países desenvolvidos. Absorvidos pelas novas descobertas, os cientistas estariam preferindo fechar-se nos laboratórios.
Epidemiologia -na definição de Susser- é a disciplina científica que estuda as determinantes que afetam a saúde das populações. É a ciência que pode estabelecer as causas dessas doenças e propor ações para controlá-las.
Nos últimos 30 anos, a epidemiologia sofisticou-se e ganhou a ajuda fundamental da biologia molecular. Antibióticos e vacinas salvam milhões de vida.
Ele acredita que a Aids está ensinando e mudando muito a epidemiologia. "O HIV está destruindo a força de trabalho de países inteiros. É uma ameaça mundial."
Susser diz que a epidemiologia -como outras ciências- entrou na era global. "Os especialistas do mundo todo terão que trocar informações e desenvolver novas capacidades de coletar e analisar os dados. Será a única forma de andar na frente das doenças."

Texto Anterior: Homens nikkeis se misturam mais
Próximo Texto: Tendência é morrer mais jovem
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.