São Paulo, sábado, 29 de abril de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Tendência é morrer mais jovem

DO ENVIADO ESPECIAL A SALVADOR

Assassinatos de meninos entre 10 e 14 anos cresceram 93% ao longo da década de 80 no Brasil. Entre adolescentes de 15 a 19 anos, o aumento de homicídios foi de 45,3%.
"A tendência no país é se morrer cada vez mais jovem", disse Maria Cecília Minayo, coordenadora do Centro Latino-Americano de Estudos sobre Violência e Saúde.
O crescimento dos homicídios entre jovens -e seus efeitos na saúde pública- também foi debatido no congresso.
Segundo Maria Cecília, as mortes por causas externas -provocadas por acidentes- são a primeira causa de mortalidade na população entre 5 e 49 anos no país. No conjunto da população, as mortes violentas passaram de 10,5% em 1980 para 15,3% em 1989, um aumento de cerca de 50%.
Na média, foram quase 10 mil mortes por ano. Se esse crescimento for mantido nos anos 90, significa que 15 mil pessoas estarão morrendo por ano vítimas da violência na virada do século.
Para Edinilsa Ramos de Souza, pesquisadora do Centro Latino-Americano, o mais alarmante é que esse crescimento vem se dando principalmente no item homicídio e nas faixas mais jovens. Acidentes de trânsito -responsáveis por 28,3% das mortes violentas- subiram pouco na última década.
Já o número de homicídios -que significa 22,3% das mortes violentas- quase dobrou entre meninos de 10 a 14 anos. Para Maria Cecília, o aumento das mortes se deve ao crescimento das desigualdades sociais e, em consequência, ao crescimento do uso de arma.
Segundo seus dados, em 1980, 14,5% das mortes violentas eram provocadas por tiro. Em 89, pulou para 26%. Na cidade do Rio de Janeiro, esse índice já passa dos 50%.
Segundo Maria Cecília, as principais vítimas dos assassinatos são jovens fora da escola e do mercado de trabalho.
Os reflexos do aumento dessa violência estão sobrecarregando o sistema público de saúde. Estima-se que, para cada vítima de morte violenta, 200 a 400 outras pessoas sofram algum tipo de trauma. Quase todos vão precisar de cuidados médicos.
Para Maria Cecília, há muitas maneiras de reduzir o número de mortes violentas. "A violência diminui na medida do crescimento da cidadania."

Texto Anterior: Descobertas terão peso menor, diz médico
Próximo Texto: Leitor reclama de mala violada
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.