São Paulo, sábado, 29 de abril de 1995
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Criança usa pedra e vidro em assalto

DA REPORTAGEM LOCAL

As mulheres são os alvos mais frequentes de uma nova modalidade de assaltos em cruzamentos no centro de São Paulo. Garotos de rua, carregando pedras ou pedaços de vidro, encostam ao lado do motorista dizendo algo como "me dá R$ 10 ou quebro a sua cara".
Eles atuam com mais frequência nos cruzamentos das avenidas Rio Branco, Duque de Caxias e Ipiranga. Segundo os comerciantes da região, os horários mais perigosos são o início da manhã, das 7h às 8h, e a partir do final da tarde, quando escurece.
Os garotos normalmente agem sozinhos, escondendo a pedra ou o vidro embaixo da blusa.
Francisco Missaci, 48, delegado titular do 3º Distrito Policial, de Santa Ifigênia, responsável pela região, diz que é difícil para a polícia combater este tipo de crime porque as vítimas raramente registram a ocorrência do assalto.
"Além disso, a legislação não permite que a polícia investigue crimes praticados por menores de idade, somente se houver flagrante", disse.
Para Missaci, o desprezo dos motoristas em relação aos garotos provocou o aumento da violência neste tipo de assalto. "Eles começaram pedindo dinheiro. Como ninguém mais dá, por medo, eles começaram a roubar para comprar comida", disse.
Segundo o menor A.M., 11, que costuma pedir esmola na esquina da avenida Rio Branco com a Duque de Caxias, alguns também roubam para comprar crack. "Quando o cara fuma, fica neurótico e acaba roubando para comprar mais", disse.
Para o delegado José Carlos Soares, 34, da seccional do centro, que coordena as principais delegacias da região central de São Paulo, o poder dos menores que assaltam é superestimado pelos motoristas. "Nunca soube de nenhum que tivesse realmente jogado uma pedra ou cortado a pessoa", disse.
Soares afirma que a falta de queixas também atrapalha o trabalho da polícia. "Não podemos prender ninguém se não houver registro da ocorrência", disse.
Segundo Soares, a polícia não tem recursos para fazer uma vigilância permanente nos cruzamentos onde ocorre o maior número de assaltos. "Temos poucos carros e policiais, não podemos dispor deles para isto e deixar de lado outros casos mais importantes e urgentes", diz.

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