São Paulo, sábado, 29 de abril de 1995
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Mínimo neutraliza aperto no crédito

MÁRCIA DE CHIARA
DA REPORTAGEM LOCAL

O Dia das Mães e o novo salário mínimo devem neutralizar os efeitos das medidas anticonsumo nas vendas de maio. A retração nos negócios, dizem os lojistas, vai ser sentida em só junho.
Ontem, as grandes redes do varejo mantinham o cheque pré-datado e os prazos do crediário. Mas davam como certo a subida dos juros a partir da semana que vem.
"Não seremos afetados por essas medidas", diz Natale Dalla Vechia, sócio da Lojas Cem.
Como a empresa tem recursos próprios para financiar a venda com pré-datados ou no crediário, em até dez pagamentos, ela espera até sair ganhando com as medidas.
Motivo: pode captar a clientela das lojas concorrentes que não têm fôlego para bancar os negócios sem tomar dinheiro no bancos.
Segundo Dalla Vecchia, a tendência é de os juros ao consumidor subirem na semana que vem. Ontem, a empresa cobrava entre 6,9% a 11,8% ao mês.
O Mappin também não havia alterado as formas de pagamento. "Mantemos, por enquanto, o crediário em 12 vezes e o pré-datado em duas vezes", diz Sérgio Orciuolo, diretor. Os juros podem subir, afirma.
Até mesmo o Magazine Luiza, que desde a última terça-feira ampliou de sete para dez vezes o crediário, informa que não foi afetado pelas medidas.
"Estamos trabalhando com recursos próprios", diz Eldo Moreno, diretor comercial da empresa.
Ele não descarta, porém, a possibilidade de encurtar prazos e aumentar as taxas de juros. Segundo Moreno, a empresa vai acompanhar o mercado.
"Não acreditamos numa queda brusca nas vendas por causa do Dia das Mães", diz. Depois do Natal, essa é a melhor data de vendas para o comércio.
Emílio Alfieri, economista da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), faz análise semelhante. Para ele, o novo salário mínimo e o Dia das Mães podem neutralizar os efeitos das medidas anticonsumo no curto prazo.
"O comércio pode vender um pouco menos do que previa inicialmente, mas o patamar ainda está elevado em relação ao mesmo período de 94", diz Alfieri.
Até o dia 27 de abril, as consultas ao Serviço de Proteção ao Crédito, termômetro do crediário, estão 35,9% maiores em relação a igual período de 94, segundo a ACSP. Na comparação com março, a queda foi de apenas 0,9%.
Para Murad Salomão Saad, a saída para os pequenos comerciantes -que têm boa parte das vendas baseadas no pré-datado- vai ser buscar dinheiro com agiota (pessoa que empresta dinheiro fora do setor financeiro).

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