São Paulo, sábado, 29 de abril de 1995
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Juro é uma barbaridade, dizem bancos

DA REPORTAGEM LOCAL

"Foi um choque térmico" para esfriar o consumo. Com essas palavras, Leocádio Rocha, da comissão de operações bancárias da Febraban (Federação Brasileira das Associações de Bancos), definiu o pacote anticonsumo.
Para ele, o governo adotou as medidas por estar preocupado com o impacto no consumo do novo salário mínimo. "É uma massa de recursos muito grande que, se entrasse na economia de forma desordenada, poderia ter impacto inflacionário."
Leocádio disse que, do crédito disponível nos bancos nos cheques especiais, somente de 25% a 35% (dependendo das regras do banco) está sendo utilizado.
O aumento do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) vai significar um encarecimento linear e 12% ao ano ou 1% ao mês nas linhas de crédito para pessoas físicas (cheque especial, crédito direto ao consumidor, aquisição de veículos).
Na prática, o cheque especial vai custar de 14% a 16% de juro contra uma inflação de 2,5%. "É uma barbaridade este juro e outra barbaridade o quando desta taxa vai para o governo na forma de compulsório e de imposto".
O aumento do custo vai "criar um fator adicional de inadimplência", afirmou. Ele disse, porém, que o atraso nos pagamentos não está crescendo porque o consumidor não tem capacidade de pagar o que deve. "O que existe é um descasamento. Ele pode honrar seus compromissos, mas precisa de prazo."
Duas medidas foram consideradas particularmente duras: as adotadas contra os cheques pré-datados e o compulsório sobre o aval bancário.
Os bancos concediam aval (garantia de que, em última instância, o banco assumiria o pagamento da dívida) nos empréstimo entre duas empresas não-financeiras (chamadas de contratos mútuos).
"As cartas de fiança (o aval) custavam de 2% a 4% ao ano. Agora, com o compulsório de 60%, passam a custar para os bancos, somente na captação dos recursos que serão entregues ao BC, 3% ao mês. O custo vai inviabilizar a operação"
No caso dos cheques pré-datados, segundo Leocádio, os bancos prestavam um serviços ao comércio. Ficavam com os cheques (custódia), descontando-os nas datas previstas, e podiam emprestar recursos tendo os cheques como garantia.
O BC proibiu ambas as operações, o que pode causar problemas de caixa para o setor do comércio que dependia desses empréstimos.
"Isso deve inibir o uso dos pré-datados como instrumento de crédito."
Já a proibição para que os bancos garantam ou financiem a emissão de "commercial papers" (títulos emitidos por empresas) deve gerar uma "substancial redução da emissão destes títulos."
Na prática, avalia Leocádio, o governo cortou uma fonte de capital de giro para que as empresas pudessem atuar em um mercado com a demanda aquecida.

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