São Paulo, sábado, 29 de abril de 1995 |
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Disco reúne homenagens ao Led Zeppelin
CLAUDIO JULIO TOGNOLLI
O CD é imperdível, para os fãs, e didático, para a moçada que escuta as novas gerações da música pop. Isso porque as faixas, regravadas, reafirmam um conselho datado de 1911 -do velho e finado bruxo húngaro da estética, Gyorgy Lukács. "Senhores, o espírito da obra está na forma, e não no conteúdo", dizia. Pois bem, a maioria das bandas que resgataram o Led Zeppelin nesse disco copiou o conteúdo, sempre igualzinho: construção acordes, entonação da voz etc. E alguns intérpretes até mesmo decalcaram os tropeços de sintaxe tão frequentes em Robert Plant, ex-cantor do Led, que acabavam por lhe melhorar a graça. Mas os novos intérpretes se esqueceram do fundamental: recriar a forma original. Como é sabido Jimmy Page, guitarrista e fundador do Led Zeppelin, era louco por timbres. Grande parte dos "vôos" do Led Zeppelin se deviam a essa obsessão. Ele chegava mesmo a gravar guitarras no banheiro, para capturar a ressonância dos azulejos. Exemplos da obsessão pela forma: Page empregava afinações obscuras e geniais descobertas pelo georgiano Leo Kottke, nascido em 1867; gravava guitarras de trás para frente, girando a fita de gravação no sentido contrário; gravava, num canal do estúdio, uma guitarra desligada, com auxílio de um microfone, para capturar apenas o som da madeira. Sabendo disso, você vai botar no seu aparelho de CD's a premiada banda inglesa Duran Duran redramatizando o sucesso "Thank You", de 1968. Os Duran Duran são fiéis ao conteúdo original. E só. Empregam efeitos tão característicos de agora que a música perde seu espírito de época. Os Stone Temple Pilots se mostram os mais geniais de toda a coletânea. Não é novidade para os músicos dos EUA que, em seu último disco, os Stone já vinham empregando afinações só e unicamente usadas por Jimmy Page. Eis que agora surgem esses Stone com uma genialidade: tocam uma "Dancing Days" acústica. Só que, em vez de se fiarem à voz agudíssima de Plant, preferem apenas sussurrar as frases. Novo sucesso nos EUA, a banda Mana vai agradar aos fãs da world music. Fazem um guisado em que se encontram maracas, apitos que lembram sessões de macumba, merengue, e até samba. Só que tocam bem e errado. "Fool In the Rain" era melhor. Os assassinatos culminam em Sheryl Crow, a nova diva do pop folk americano, cantando desafinado por toda a "D'yer Mak'er". Até que você chega no ponto em que vale a pena comprar o disco. O Cracker refaz as guitarras melhor do que as do Led Zeppelin. A Rollins Band desconstrói os vocais originais, mas impõe novos timbres à massa metálica criada pelo Led. Helmet e David Yow soam como um novo Zeppelin. Mas algo parece ainda soar errado, e voltamos ao ponto primeiro: o disco não respeita o melhor do Led, a forma da época. Exemplo: em todas as faixas de "Encomium" os grupos usam os efeitos "chorus" -que reproduzem o som original com um atraso que varia entre 5 e 25 milésimos de segundo. Trata-se de uma artimanha eletrônica do final dos anos 70, jamais usada pelo Led Zeppelin. O fim do disco traz o único assassinato que não parece involuntário: Robert Plant e Tori Amos destroem tudo o que sobrava da belíssima "Down by the Seaside". O velho Led era muito melhor. Disco: Encomiun Artistas: Duran Duran, Sheryl Crow, Stone Temple Pilots, Helmet, Tori Amos e outros Gravadora: Warner Quanto: R$ 20,00 (o CD, em média) Texto Anterior: Livro sobre drags mostra apelo popular Próximo Texto: Mercury vai atuar em "Mar Morto" Índice |
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