São Paulo, sábado, 29 de abril de 1995
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Ornitorrinco 2 leva mistério de Vargas Llosa até Nova York

PAULA MEDEIROS DE OLIVEIRA
DA REDAÇÃO

Uma mulher desapareceu. A última vez em que foi vista estava no bar de Chunga. Esse mistério sem solução é a nova montagem do grupo Ornitorrinco Núcleo 2.
O que aconteceu com a moça? Pouco importa. "A Chunga", de Mario Vargas Llosa, será apresentada no Festival Hispânico de Teatro, que acontece em Miami e Nova York, no mês de junho, e deve estrear aqui no segundo semestre.
Na peça, Llosa tece as conjecturas, hipóteses e dúvidas de quatro homens para, ao final, não responder à pergunta.
Segundo Maria Alice Vergueiro, que escolheu o texto e faz a Chunga (uma mulher sem idade) na peça, o Núcleo 2 nasceu há três anos como uma alternativa para o Ornitorrinco original, dirigido por Cacá Rosset, "com o espírito de arriscar novas linguagens".
Vargas Llosa, quando apresenta sua história, diz que "o teatro é um gênero privilegiado para representar o labirinto inquietante de anjos, demônios e maravilhas que é a morada dos nossos desejos".
Procurando manter esse espírito, William Pereira, 32, foi convidado para dirigir a montagem.
O diretor de espetáculos como "Uma Relação tão Delicada", com Irene Ravache e Regina Braga, em 89, e "Eu Sei que Vou te Amar", com Alexandre Borges e Júlia Lemmertz (ainda em cartaz), se diz "seduzido pela possibilidade de experimentar".
A encenação explora as fantasias que a passagem de uma moça, de corpo bem-feito e rosto atraente, provocam na cabeça e no coração de quatro homens -autodenominados inconquistáveis- que vivem plantados em um deserto.
"É uma questão tratada com vários estilos", diz William. Ou seja, o diretor transforma essas fantasias (idéias de sacanagem, masoquismo, romantismo e poder) em diferentes gêneros de teatro.
O autor levanta perguntas que não têm respostas. William diz querer criar estruturas "para que as dúvidas de quem assiste sejam maiores".
No fim, pode ser que a moça desaparecida não passe de um sonho. Pode até ser que ela nem tenha existido.
O diretor acredita que "para ser fiel a um autor é necessário traí-lo". Profissionalmente, essa é a primeira montagem do texto de Llosa feita por grupo brasileiro.
"A Chunga" foi escrita em 1985 e encenada em vários lugares do mundo. Segundo Maria Alice, o escritor lhe confessou nunca ter gostado das montagens a que assistiu.
Ângelo Brandini, um dos inconquistáveis, explica que, como o cenário é muito simples (apenas algumas cortinas, um balcão e uma cadeira de balanço), todo o trabalho é centrado nos atores.
"Não há pirotecnias ou muletas que possam maquiar a performance do artista no palco", diz ele.
O Festival Hispânico de Teatro acontece em Miami há dez anos e, pela primeira vez, em Nova York. Essa é a terceira participação do Ornitorrinco no festival.

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