São Paulo, sábado, 29 de abril de 1995
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Zarif reinventa anatomia das artes e corpos em mostra que acaba amanhã

ALBERTO RENAULT
ESPECIAL PARA A FOLHA

Até amanhã, o artista plástico Fernando Zarif mostra no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro o fim de todas as coisas: nossos ossos e nossa condição. Mais do que mostrar, reinventa -dom raro de dar forma ao que quase já sabíamos.
A exposição de Zarif tem o apropriado nome de "O Corpo Humano e Outros Corpos": trabalha justamente com questões em torno da anatomia dos corpos e das artes.
Nessa sua primeira individual no Rio o artista optou por uma múltipla exposição de esculturas, fotografias, pinturas e desenhos, na qual todas as artes vestidas de idéias reaparecem despidas de efeitos.
No lugar das mãos, um esqueleto humano abana os pés -e vice-versa. Nome: "Os Pés Pelas Mãos". Cadeados atados uns aos outros sugerem um "Zíper". A ossatura de uma mão surpreende quando contamos seis dedos.
Um longo esqueleto com oito caixas toráxicas vira automaticamente uma "Limousine". As transformações se espalham por mapas alados, rostos fantasticamente vivos, anomalias e aberrações. Um museu de delicados horrores onde o visitante é vítima de uma irônica autópsia que misteriosamente diviniza o corpo na sua própria escatologia.
Zarif evoca temas bíblicos, científicos e mundanos. O renascimento e o pop redesenham-se no pensamento e nas formas que, ainda que únicas, parecem múltiplas.
Como observou o também artista plástico José Resende no catálogo da exposição, dos trabalhos de Zarif "surgem significados, os mais diversos, que tecem tramas complexas e inesperadas".
A mostra no MAM é uma boa oportunidade de reaquecer o diálogo Rio-São Paulo. O artista, já estabelecido no circuito paulistano, ganha neste intercâmbio uma dimensão "nacional" -conferida por uma instituição como o MAM, museu interdisciplinar.
A exposição despede-se deixando uma feliz marca num diálogo bissexto que bem poderia tornar-se frequente.

Mostra: O Corpo Humano e Outros Corpos
Artista: Fernando Zarif
Onde: Museu de Arte Moderna (av. Infante D. Henrique, 85, tel. 021/210-2188)
Quando: até amanhã; das 12h às 18h
Preço: R$ 1,00

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