São Paulo, sábado, 29 de abril de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

De siglas e de vícios

DE SIGLAS E DE VÍCIOS

Reestreou esta semana nas telas políticas brasileiras um filme já visto muitas vezes: a dificuldade do PMDB em se definir seja como governo seja como oposição.
É um enredo que reaparece periodicamente, a rigor desde a redemocratização do país em 1985. Naquela época, o PMDB chegou ao cúmulo: o presidente da República (José Sarney) pertencia nominalmente ao partido, mas importantes lideranças peemedebistas faziam oposição ao seu governo.
A teoria mais elementar manda dizer que o partido majoritário deve ser o eixo em torno do qual gira a atividade política e parlamentar. O PMDB tem sido majoritário desde as eleições de 86, mas jamais conseguiu ser de fato o eixo da política porque não é bem um partido, mas uma federação de interesses grupais e individuais, como a quase totalidade das legendas.
É natural que, no vácuo dessa indefinição peemedebista, o segundo maior partido, o PFL, tente se transformar no primeiro, por meio de uma operação de cooptação.
Como o PFL também padece dos mesmos vícios do PMDB, o risco que a vida política corre é o de que as indefinições continuem presentes, mesmo que o PFL ganhe o status de maior partido. Pior ainda: pode ocorrer que, em vez de indefinições, se tenham más definições.
Afinal, o PFL é filho da velha Arena, participou e/ou apoiou todos os governos dos últimos 30 anos e não se pode dizer que o resultado da ação desses governos foi brilhante, para dizer o mínimo.
Cabe indagar, por isso, se convém ou não ao presidente estimular a criação desse super-PFL. De um lado, há uma vantagem inequívoca: negociar com um partido majoritário é mais fácil do que negociar com seis, como ocorre hoje.
Bem feitas as contas, o nó político brasileiro não está dado exclusivamente pelas indefinições do PMDB ou pelo tamanho do PFL, mas por uma legislação partidária e eleitoral extremamente deficiente. O problema não está em quem ou quantos ocupam cada embarcação, mas no fato de todos andarem em círculos, sem rumo definido ou tripulações responsáveis.

Texto Anterior: Engavetamento
Próximo Texto: Às escuras
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.