São Paulo, domingo, 30 de abril de 1995
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Parlamentares fazem de tudo pela fama

CYNARA MENEZES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Nem projetos, nem discursos: é preciso não ter medo de parecer ridículo para despontar no cenário de 513 deputados federais e 81 senadores que compõem o Congresso Nacional.
A coleção de adeptos das performances já inclui o senador que anda de sandália de couro -e sem cueca-, a deputada que pinta o cabelo para combinar com a da cor da roupa e até o deputado que escorregou em um tobogã de paletó e gravata.
A façanha do tobogã, transmitida pelas TVs locais, foi protagonizada pelo deputado Robson Tuma (PL-SP) ao tomar posse na presidência do Clube do Congresso.
Ele inaugurava o tobogã e, não satisfeito em escorregar uma vez, pela manhã, aceitou repetir o feito à tarde para as lentes de fotógrafos e cinegrafistas que tinham perdido a cena. Detalhe: o tobogã no qual Tuma escorregava terminava em uma piscina.
A deputada Esther Grossi (PT-RS) quer ser reconhecida como educadora, mas ficou famosa por pintar os cabelos da mesma cor que as unhas e o vestido, liga para as redações de jornais para avisar os fotógrafos sobre o figurino do dia.
Há duas semanas, telefonou para dizer que iria à Câmara a bordo de um inacreditável tailleur (traje feminino em duas peças) com estampa do bloco afro-baiano Olodum.
A também novata Vanessa de Felippe (PSDB-RJ), suplente da Mesa Diretora da Câmara, descobriu uma forma infalível de conseguir destaque: fica "estacionada" estrategicamente, e, quando o presidente da Casa, Luís Eduardo Magalhães (PFL-BA), sai, ela prontamente assume a presidência.
O verde Fernando Gabeira (RJ), um pouco por hábito e muito por marketing, vai a solenidades públicas de bicicleta e se destaca com seus ternos exóticos.
No último dia 11, saiu de uma audiência com o presidente Fernando Henrique Cardoso, no Palácio do Planalto, de bicicleta. Fez a festa dos fotógrafos.
O senador Gilvan Borges (PMDB-AP), que só anda de sandália de couro de búfalo e alardeia não usar cueca, explica: "É que sinto muito calor".
Piadas
A tática da anedota também é muito comum para conseguir espaço na mídia, principalmente em colunas de notas.
São campeões no gênero os senadores Esperidião Amin (PPR-SC) e Roberto Requião (PMDB-PR) e o deputado Humberto Souto (PFL-MG).
Na quarta-feira passada, enquanto se discutia a reforma da Previdência na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), Souto contava piadas (durante meia hora) no cafezinho do plenário.
Requião é o campeão de emendas ao projeto de patentes, que regulamenta direitos sobre propriedade intelectual, mas nem escuta as discussões. Prefere ficar falando frases de efeito para os jornalistas.
O presidente da CCJ da Câmara, Roberto Magalhães (PFL-PE), chegou a comentar com um assessor sobre a dificuldade de se votar a reforma da Previdência com tantos flashes e câmeras de TV.
Uma semana antes, em apenas uma tarde, a comissão havia votado 50 projetos. Já a votação da reforma da Previdência durou mais de dez horas: além da dificuldade do tema, era só acender a luz de uma câmera de TV, que um deputado pedia uma questão de ordem.
Os deputados do PC do B têm uma tática que devem ter herdado do movimento estudantil: são dez, mas fazem barulho por cem. Mas ainda não conseguiram vitórias políticas no grito.
Na comissão que votou o fim do monopólio do gás canalizado, os parlamentares do PC do B tinham seis votos, mas quem entrasse na sala pensaria que estavam ganhando a parada. O governo, que tinha 24 votos, é que acabou vitorioso.

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