São Paulo, domingo, 30 de abril de 1995
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CNBB tenta formar chapa de consenso

FERNANDO MOLICA
DA SUCURSAL DO RIO

Uma divisão de cargos está sendo articulada na busca de consenso para a eleição da próxima direção da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil).
Este acordo garantiria a presidência da entidade a um bispo "progressista" e entregaria a secretaria geral a um representante dos "moderados" ou "conservadores".
A eleição ocorrerá durante a próxima assembléia geral da CNBB, entre os dias 10 e 19 em Itaici, distrito de Indaiatuba, a 110 km de São Paulo.
Desde o início da década de 70, os dois cargos -os mais importantes da entidade- vêm sendo ocupados por bispos "progressistas", que procuram enfatizar o trabalho social da Igreja Católica.
A possibilidade de negociação reflete a ascensão dos "conservadores" na hierarquia da igreja no Brasil.
"A composição é possível", afirma d. Waldyr Calheiros, 71, bispo de Barra Mansa e Volta Redonda (RJ), "progressista", um dos principais articuladores da candidatura do bispo de Pelotas, d. Jayme Chemello -o preferido pela atual direção da CNBB.
Para d. Waldyr não haverá, entre os de sua ala, maiores resistências a um acordo com os "conservadores".
"Desde que haja segurança para o desenvolvimento de nossos trabalhos", ressalva, revelando uma preocupação quanto a uma eventual resistência da futura direção às atividades desenvolvidas pelos "progressistas" em comunidades de base.
Ao contrário de outras sucessões na CNBB, desta vez não poderá ser mantida a tradição de o secretário geral ascender à presidência.
Por exigência do Vaticano (sede da igreja), o presidente de uma conferência nacional tem que ser bispo titular de uma diocese (região que engloba bairros ou cidades).
O atual secretário-geral, d. Antonio Celso Queiróz, não é titular, mas bispo-auxiliar da arquidiocese de São Paulo. A inelegibilidade de d. Antonio deixou a disputa em aberto.
Uma ofensiva dos "conservadores" acabou facilitando a possibilidade de composição. Em novembro e janeiro passados, o bispo-coadjutor (auxiliar) de Jundiaí (SP), d. Amaury Castanho, enviou a cerca de 200 bispos duas cartas que continham nomes para uma chapa de oposição.
D. Amaury defendia "mudanças de rumo" na CNBB, com uma menor "ênfase em questões de natureza social e política".
As cartas propunham o nome do arcebispo de Salvador, d. Lucas Moreira Neves, para a presidência da CNBB. Em 91, d. Lucas foi derrotado por d. Luciano na terceira rodada de votação.
As cartas romperam a discrição tradicional da disputa: vários dos indicados para cargos reagiram de forma negativa à indicação de seus nomes.
Entre eles, d. Lucas, d. Eusébio Oscar Scheid (arcebispo de Florianópolis-SC) e d. Serafim Fernandes de Araújo (arcebispo de Belo Horizonte-MG).
D. Serafim acabou se tornando o principal articulador do que prefere chamar de "busca de um consenso".
Atual vice-presidente da CNBB, d. Serafim afirma que posições "progressistas" e "conservadoras" enfraqueceram-se nos últimos anos.
A indicação de d. Jayme Chemello também favorece a possibilidade de um acordo. Apesar de indicado pelos "progressistas", d. Jayme não tem maiores adversários entre os "conservadores". "Ele é um homem culto e cordato", diz d. Amaury Castanho.

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