São Paulo, domingo, 30 de abril de 1995
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Ex-prostituta perde amigos e clientes

MAURICIO STYCER
DA REPORTAGEM LOCAL

Até ganhar sozinha na Sena, em 28 de novembro de 1988, a prostituta Maria de Fátima dos Reis era uma das mais populares moradoras de Patos de Minas, cidade com cerca de 110 mil habitantes a 400 km de Belo Horizonte.
O prêmio de Cz$ 997 milhões -US$ 1,7 milhão pela cotação do dólar oficial daquela semana- melhorou a vida de Fátima, mas a transformou numa solitária.
"Minha vida melhorou muito, mais de 100%. Antes eu não passava de uma prostituta. Hoje sou muito respeitada. Até demais. Nem cantada recebo. Acho graça. Porque continuo a mesma pessoa", conta ela.
Fátima avalia que seu erro foi ter ficado na cidade em que morava. Se tivesse mudado, talvez não enfrentasse as dificuldades de relacionamento que tem hoje. "Eu não tinha noção do que representava aquele dinheiro todo", diz.
O problema de Fátima é que os amigos que antes a procuravam agora esperam que ela os procure.
"Não sei o que acontece. Acho que é porque se um aparece com carro novo e foi visto comigo, ele tem medo que vão dizer que fui eu que dei", explica.
Fátima investiu a bolada que ganhou em imóveis, terras e gado. Hoje, aos 40 anos, vive em uma fazenda a 20 km de Patos de Minas com três filhos e uma neta.
Na época em que ganhou, Fátima era dona de uma "casa de encontros para homens casados". Por causa do estado civil da clientela, o bordel só costumava funcionar durante o dia.
Após receber o prêmio, Fátima fechou a sua casa de encontros, mas em nenhum momento perdeu o interesse pelo negócio.
Chegou a comprar um motel, mas não foi muito bem e vendeu.
Hoje, Fátima se dedica à construção de uma casa de 750 m2, distante 20 km de Patos, onde ela pretende abrigar entre 10 e 20 meninas de programa. "É o que sempre gostei de fazer", diz.
Fátima conta que prefere enfrentar a solidão aos chatos que sempre cercam os ganhadores de prêmios milionários. "Quando me pedem dinheiro emprestado, eu digo: 'Quem empresta dinheiro é o banco'. Não é?", pergunta.
Como costuma acontecer com quem ganha muito dinheiro de uma só vez no jogo, o prêmio de 1988 não mudou os hábitos de Fátima. Ela continua apostando religiosamente na Loto, na Sena e, agora, na Supersena.
"Um ano depois de ter feito a sena, fiz a quina. Na Loto, sempre acerto a quadra ou o terno."
Fátima apostou 30 cartões na Supersena. Sempre joga nos mesmo números. Não revela todos, mas jamais se esquece dos números que a tornaram milionária: 5, 13, 14, 15, 31 e 39.
"Antigamente, jogava para ganhar. Hoje, jogo por jogar. Muitas vezes nem mesmo confiro o resultado", diz. (MSy)

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