São Paulo, domingo, 30 de abril de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

'Bolão' ganha Sena, mas líder rouba prêmio

MAURÍCIO STYCER
DA REPORTAGEM LOCAL

A vitória na Sena se transformou num pesadelo que persegue há mais de quatro anos um grupo de apostadores de Divinópolis, uma cidade a 124 km de Belo Horizonte.
Funcionários da Rede Ferroviária Federal (RFFSA) da cidade, eles formavam uma turma conhecida como "o grupo dos 12".
Toda semana, eles jogavam nos mesmos números da Sena espalhados por 60 cartões.
No dia 29 de outubro de 1990, o grupo dos 12 da RFFSA finalmente ganhou na Sena. Mas, até hoje, 11 deles não conseguiram ver a cor do dinheiro.
O prêmio, equivalente a US$ 410 mil, renderia pouco mais de US$ 33 mil para cada um.
Naquele dia fatídico, o supervisor de mecânica Márcio Queiroz de Freitas, o líder do "bolão", avisou os 11 colegas que eles haviam acertado a quina (um prêmio secundário) no concurso 137.
No mesmo dia, o técnico em eletrônica Joaquim Vilas Boas, também integrante do bolão, viu na TV que só dois apostadores haviam acertado a sena e, por coincidência, um deles era de Divinópolis. "A sorte está rondando a cidade", pensou. Estava enganado.
O bilhete premiado pertencia a Freitas. Segundo a acusação dos demais 11 integrantes do bolão, Freitas alterou alguns números do grupo, utilizando o dinheiro que eles entregavam para a aposta. Em resumo, ganhou a Sena sozinho, mas financiado pelo grupo.
O caso foi parar na Justiça. O agora "grupo dos 11" conseguiu, na 3ª Vara Cível de Divinópolis, o bloqueio do dinheiro depositado por Freitas na Caixa Econômica e o levantamento dos bens adquiridos por ele após o sorteio.
Freitas recorreu, mas não obteve sucesso. A decisão foi confirmada, primeiro, pelo Tribunal de Alçada de Minas Gerais e, depois, pelo Superior Tribunal de Justiça.
O caso, segundo Vilas Boas, está em fase de execução. A Justiça determinou o bloqueio de dois carros antigos de Freitas. O grupo dos onze também pleiteia uma casa e um telefone do ex-amigo.
"Esses bens representam uma mínima parte do que ele comprou com o dinheiro do prêmio. O resto ele colocou no nome da mulher e de parentes", acusa Vilas Boas.
Freitas continua morando em Divinópolis, mas a Folha não conseguiu localizá-lo.
"Temos muita esperança que vamos conseguir recuperar o que é nosso", diz Vilas Boas, 40, uma espécie de porta-voz do grupo.
Enquanto aguarda que seja feita a justiça, o grupo dos 11 não pára de apostar. Jogaram 55 cartões simples na Supersena. "Acredito que a sorte bate duas vezes no mesmo lugar. A sorte ronda a gente", diz Vilas Boas.
(MSy)

Texto Anterior: Ex-prostituta perde amigos e clientes
Próximo Texto: Prêmio sustenta famílias por dez gerações
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.