São Paulo, domingo, 30 de abril de 1995
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Colecionadores sustentam vendas

CLÁUDIA PIRES
DA REPORTAGEM LOCAL

Colecionadores sustentam vendas
Obras brasileiras podem ser compradas no exterior por preços mais baixos
Os colecionadores de arte contemporânea ainda são os principais compradores das obras de arte dos artistas brasileiros.
Mesmo com o crescimento das grandes galerias, principalmente em São Paulo e no Rio de Janeiro, muitos artistas garantem suas vendas através destes colecionadores.
"Alguns artistas afirmam que vendem bem no exterior, mas na verdade estão vendendo para colecionadores brasileiros. Comprar uma obra de arte brasileira no exterior pode ser bem mais barato que no Brasil", afirma o marchand Pedro Côrrea do Lago.
Segundo ele, um Di Cavalcanti, por exemplo, que no Brasil é vendido por US$ 30 mil, pode ser comprado no exterior por menos de US$ 15 mil.
Projeção internacional
A artista plástica brasileira Jac Leirner, 33, acredita que o trabalho dos artistas brasileiros no exterior está em ascensão.
"A tendência é crescer. Existem muitos colecionadores estrangeiros que conhecem bem o trabalho dos artistas nacionais".
Ela faz parte da chamada "geração 80", de artistas que ganharam projeção internacional nos últimos dez anos. Jac tem maior projeção nos EUA, mas já expôs em vários países da Europa e Ásia.
Segundo os especialistas, seus trabalhos estão avaliados entre US$ 3 mil e US$ 24 mil.
Jac concorda que o mercado de arte sofre as consequências das mudanças na economia. "Não há como negar que durante as épocas de otimismo econômico há uma procura maior. Mas sempre existem as pessoas que conhecem e apreciam a arte em qualquer época", diz ela.
Para o artista plástico Daniel Senise, 39, existem diferentes perfis de compradores de arte. "Algumas pessoas só compram o que está na moda. Este tipo de comprador pode ser levado pelo otimismo econômico. Agora, os conhecedores de arte sempre vão continuar comprando", afirma.
Senise acredita que exista um mercado para o artista brasileiro no exterior, mas através de esforços individuais.
Já o artista plástico Cláudio Tozzi, 50, afirma que as vendas realizadas no exterior por artistas brasileiros são esporádicas. "Quem fala que vende muito trabalho lá fora não está sendo sincero. Outros países como o México e a Venezuela têm uma projeção maior. Para o Brasil, o mercado ainda é muito fechado".
Tozzi faz parte de uma geração anterior de artistas plásticos brasileiros, a "geração 70". "Não há investimento na divulgação do trabalho dos brasileiros no exterior".
Colecionador
O arquiteto paulista Rodolfo Ortemblad Filho, 68, coleciona obras de arte contemporâneas desde 1952.
Ele possui trabalhos de vários artistas brasileiros, que vão desde exemplares de artistas que participaram da Semana de 22, até os representantes das últimas gerações, como Cláudio Tozzi.
"Algumas pessoas compram obras de arte para investir dinheiro, mas eu nunca fiz isso. O mercado é muito variável e muitos trabalhos não podem ser vendidos de uma hora para outra".
O colecionador concorda que durante as épocas de economia estável, muitos compradores investem mais no mercado. "Mas eu não acho isso correto. Arte é para ser apreciada e não uma simples fonte de renda".(CP)

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