São Paulo, domingo, 30 de abril de 1995
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JORDAN

MELCHIADES FILHO
DO ENVIADO ESPECIAL A CHICAGO

Folha - Qual é seu papel no Chicago Bulls-95?
Jordan - Acho que já faço parte do comando do time. Mas ainda não estou preparado para assumir totalmente a liderança. O líder tem que saber tudo o que está acontecendo e o que vai acontecer na quadra.
Ainda estou aprendendo coisas sobre a equipe, as pessoas e sobre eu mesmo. Quero voltar ao nível em que me encontrava. Mas nem mesmo eu sei o que vou conseguir fazer. E isso é o mais excitante.
Folha - E suas impressões sobre o time...
Jordan - É mais versátil e passa melhor do que a última formação com a qual havia jogado. Mas falta estabilidade debaixo da tabela e precisão na defesa.
Tenho, também, que me acostumar com Toni (Kukoc, ala croata que estreou na temporada passada). E preciso de alguns jogos nesta quadra, me acostumar ao United Center.
Folha - E como está sua condição técnica?
Jordan - Todo o meu jogo já está aí. Rebotes, ok. Passes, estou dentro. Faltam apenas os arremessos. Meu aproveitamento ainda não é de 100%. Mas, cedo ou tarde, isso também vai acontecer. É como amarrar sapatos. Quanto mais você faz, melhor dá o nó.
Não vou ficar preocupado nem hesitar. Se hesitasse, não seria eu.
Folha - Você teve um grande impacto sobre a campanha do time. Desde seu retorno, os Bulls ganharam 13 de 17 partidas.
Jordan - O que fiz nesses jogos de nada adianta. Agora começa a verdadeira competição. São os playoffs que entram no livro de história. A temporada regular devemos esquecer, jogar no lixo.
Folha - Chances de título?
Jordan - Existem. A liga não é a mesma. Há dois anos, o nível das equipes era maior. Os times hoje estão mais equilibrados. Não precisamos estar num nível excelente para termos chances de vencer.
O esporte muda, as pessoas mudam, você muda. Mas minha expectativa não mudou.
Nem a de Chicago. Jordan permanece seu principal cartão postal, à frente da Sears Tower, o prédio mais alto do mundo.
Na entrada da cidade pela Kennedy Expressway, um prédio branco serve de tela para os cidadãos mais famosos.
Michael Jordan, nascido em Nova York e criado na Carolina do Norte, é o personagem principal.
O astro abriu um restaurante em 93. O Michael Jordan's, que serve hambúrgueres por US$ 7 (preço de quatro Big Macs nos EUA), não figura nas listas dos melhores de Chicago.
Mas é o mais recomendado em programa exibido nos circuitos internos de TV dos principais hotéis.
As camisetas com seu novo número (45), brancas ou vermelhas, estão quase esgotadas. Chegaram a ser vendidas por cambistas no United Center por US$ 80. Nas lojas, custam US$ 45.
A Champion, fabricante oficial dos uniformes da NBA, informou que foram comercializadas mais camisetas de Jordan em 15 dias do que, somadas, as de Shaquille O'Neal e Grant Hill -os mais populares jogadores da liga até março- em todo o ano de 95.
A empresa contratou um turno inteiro de funcionários para suprir a demanda.
Os fãs não abandonaram Jordan durante o período em que ele "brincou" com tacos.
O Pelé do basquete atuou um ano e meio na terceira divisão do beisebol. Curiosamente, a greve das estrelas deste esporte contribuiu para sua volta às quadras.
Diante do impasse, os donos das equipes da Major League (primeira divisão) convocaram seus atletas das categorias inferiores.
Para não ser considerado "fura greve", Jordan resolveu se afastar. Sentiu que não teria chances de jogar nesta temporada e, em seguida, anunciou sua volta à NBA.
Vinte e sete dias depois, a paralisação acabou.
Folha - Qual o balanço de sua passagem pelo beisebol?
Jordan - Sentia falta do desafio no esporte quando deixei a NBA. No beisebol, a situação era diferente, havia muito o que aprender. Tinha muita confiança, mas também muitas dúvidas. Isso porque o ambiente não era familiar.
É diferente hoje, de volta ao basquete. Tenho absoluta confiança nas minhas habilidades.
Folha - O que sua família achou da volta ao basquete?
Jordan - Está mais contente, é óbvio. Se não tivesse voltado para o basquete, estaria jogando beisebol na Flórida, no Tennessee, sei lá. Com os Bulls, pelo menos eu fico em casa.
Casado, três filhos, Jordan é ciumento. Juanita, quatro anos mais velha, havia namorado outro jogador do Chicago Bulls antes de conhecer o futuro marido.
Jordan perseguiu o armador Reggie Theus até abreviar sua carreira.
Juanita foi "proibida" de assistir a jogos de que Jordan não participa.
O craque costuma dizer que o casamento o acalmou. Conta que escolheu o basquete porque as meninas da Carolina do Norte "só se interessavam" por atletas.
Durante os oito meses de temporada, no entanto, pouco vê a família.
Os Bulls fazem pelo menos 41 jogos em casa -e 41 em outras 25 cidades dos EUA. Cerca de cem dias são passados entre aeroportos e hotéis.
Os atletas podem levar suas mulheres. Mas Jordan prefere viajar só.
Nas rodadas em Chicago, a agenda limita a família à hora do almoço.
Pela manhã, golfe. À tarde, uma soneca. Depois, a rotina pré-jogo.
Quando chega em casa, Juanita e as crianças Jeffrey, Marcus e Jasmine normalmente estão dormindo.
Janta sozinho.
Folha - O basquete atrapalha sua vida familiar?
Jordan - É um sacrifício necessário. Tento compensar nos quatro meses fora da temporada.
Folha - E se um de seus filhos decidir jogar basquete?
Jordan - Eles serão esportistas. Não tenho dúvida. Mas se quiserem jogar basquete, ficarei preocupado. Não me iludo. Seja qual for a carreira que quiserem seguir, terão problemas. No basquete, a pressão seria maior ainda. Não é fácil ser uma criança hoje em dia.
Folha - O que você acha da nova Jordan-mania que tomou conta do país?
Jordan - Tenho medo que as pessoas me vejam como um Deus. Tenho muitos defeitos. Meu humor varia muito, por exemplo. Isso está ficando grande demais. No começo, é divertido, você se sente querido, afinal você quer respeito. Depois, vira absurdo.

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