São Paulo, domingo, 30 de abril de 1995
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F-1 tenta 'esquecer' a morte de Senna

JOSÉ HENRIQUE MARIANTI
DO ENVIADO A IMOLA

Em 1º de maio do ano passado, o piloto brasileiro Ayrton Senna morreu em consequência de um acidente sofrido durante o Grande Prêmio de San Marino de F-1.
E, a um dia do primeiro aniversário da morte do tricampeão mundial, a sua categoria parece tentar esquecê-lo.
Os fãs prestaram suas homenagens.
Inundaram de lembranças a curva Tamburello, o local onde Senna se chocou contra um muro de proteção.
São flores, fotos, camisetas, bandeiras do Brasil, faixas, cartas, recados.
O mesmo não foi feito pelos responsáveis pela organização do evento.
Quase nada lembra Senna. Nem o programa oficial da corrida, que leva um inusitado carimbo de "provisório", lista qualquer cerimônia relacionada ao piloto.
O fato do lançamento da pedra fundamental de um museu sobre Senna, na última semana, que será construído nas cercanias do autódromo Enzo e Dino Ferrari, tampouco mereceu atenção.
Muito menos as comemorações marcadas para amanhã, em Imola, quando fãs-clubes, torcedores e autoridades da cidade de Bolonha, para onde Senna foi transportado de helicóptero ao hospital local, estarão fazendo suas celebrações pela memória do piloto.
Seus companheiros de pista, os pilotos, foram reservados.
Alguns, por relutarem; outros, por não estarem dando a mínima.
Exceção deve ser feita ao brasileiro Rubens Barrichello, da equipe Jordan.
O piloto foi bastante solicitado pelos jornalistas durante todo o fim-de-semana.
Na Williams, a última equipe de Senna, a norma adotada foi o silêncio.
Nem mesmo o fato de o resultado do inquérito do acidente ter tido sua divulgação adiada por mais seis meses mereceu uma declaração por parte da equipe.
Oficialmente, os membros da Williams estão impedidos de falar porque parte do time está arrolada no processo.
Frank Williams, chefe e proprietário da escuderia inglesa, quebrou a regra para a TV francesa.
"Foi uma fatalidade. Não podemos fazer mais nada. O circuito está mais seguro, e isso já é positivo", disse, de forma lacônica.
O alemão Michael Schumacher, da Benetton, utilizou o discurso padrão para a ocasião.
"Poucos sabem, mas ele era meu ídolo", disse o campeão mundial.
Já o austríaco Gerhard Berger, que era amigo de Senna, pediu para não falar.
"É muito difícil para mim", disse o piloto que, este ano, às vésperas do Grande Prêmio do Brasil, foi sozinho ao cemitério do Morumbi (zona sul de São Paulo) visitar o túmulo onde o corpo de Senna está enterrado.
Questionado se Senna estaria "assistindo" à prova de hoje, Berger foi simpático.
"Provavelmente, ele deve ter arrumado alguma corrida por lá e não dará a mínima para nós", afirmou o piloto da Ferrari.
(José Henrique Mariante)

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