São Paulo, domingo, 30 de abril de 1995
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Café forte para Jô Soares

DALMO MAGNO DEFENSOR
ESPECIAL PARA A FOLHA

Há pouco tempo, Jô Soares recebeu em seu programa um matemático que se propunha a solucionar o problema das enchentes em São Paulo. O projeto consistia em instalar, nos grandes edifícios, reservatórios para retenção da água da chuva, evitando a sobrecarga de galerias pluviais -e consequentes alagamentos- causada pelos torós.
Pouco impressionado com a singular proposta, o rotundo "showman" a questionou com leve ironia. Porém, depois que o entrevistado, perguntado sobre a repercussão do projeto, confessou candidamente que enviara faxes à Prefeitura e à ONU (sic), sem obter resposta, Jô ficou mais agressivo. Parecia haver percebido, subitamente, que entrara numa (entrevista) fria, quem sabe urdida por algum esperto fabricante de caixas d'água. E apressou o fim da conversa, para alívio deste constrangido telespectador.
Vejo seus programas há tantos anos que Jô Soares me é familiar como um parente. Mas mesmo um parente querido fica chato, quando se exibe demais e constrange as visitas. Quando uma sexóloga curitibana falava sobre mulheres que tinham vários orgasmos sucessivos, o circular jazzófilo perguntou se ela mesma os tinha -e recebeu uma resposta profissionalmente atravessada. O senador José Fogaça e sua esposa, cantora de música tradicional gaúcha, foram contemplados com piadinhas indelicadas -para dizer o mínimo- sobre sua primeira relação.
Com incômoda frequência, o talk show do cilíndrico comediante tem se assemelhado a uma festa particular diária, à qual chego atrasado e constato que já se bebeu muito. Há conversas interessantes e tiradas espirituosas, mas também demasiadas "private jokes" com o quinteto, overdoses de narcisismo (solos de teclado, blues desafinados) e gracinhas de gosto duvidoso. Seria efeito do sucesso inebriante?

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