São Paulo, terça-feira, 2 de maio de 1995
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SP troca trigo pela safrinha de milho

CARMEM BARCELLOS
FREE-LANCE PARA A FOLHA

A safrinha de milho está ocupando este ano quase todo o espaço antes destinado ao trigo na região do Vale do Paranapanema, em São Paulo.
Entre os 3.860 agricultores ligados à Copermota (cooperativa do município de Cândido Mota), a área plantada de milho safrinha saltou de 30 mil hectares, em 94, para 40 mil hectares este ano.
Ao mesmo tempo, a área de trigo deverá cair de 15 mil hectares para 6.000 hectares, avalia José Roberto Borges, presidente da cooperativa.
No município de Pedrinhas Paulista, os mil associados da cooperativa local também plantaram 40 mil hectares de milho.
``Para o trigo, que há três anos ocupava 50 mil hectares, restaram apenas 3.000 mil hectares", diz o agrônomo Rubens Cimonetti.
Um dos fatores de estímulo para os produtores do Vale do Paranapanema apostarem no milho este ano foi o encerramento da colheita de soja antes de março.
Com isto, eles puderam plantar o milho até o dia 15 de março, prazo apontado pelos técnicos como limite para evitar que as plantas sejam atingidas por geadas na época da formação dos grãos.
Em 94, devido ao atraso no plantio, as geadas provocaram quebra de 80% dos milharais do Vale.
O milho safrinha é plantado entre fevereiro e março, e colhido entre junho e julho, fora do seu ciclo normal, a chamada safra de verão, cujo plantio e colheita ocorrem entre setembro e janeiro.
Por isto, durante o inverno, a lavoura corre o risco de ser totalmente destruída pela geada.
Mas este perigo, segundo Borges, acaba sendo compensado pelo menor custo de produção.
``O plantio sobre os resíduos de soja (já bastante adubada), reduz a necessidade de fertilizantes", diz.
Ele avalia que o custo médio de produção do milho safrinha é de R$ 120 por hectare, enquanto o do trigo gira em torno de R$ 250/ha.
``Ano passado perdi 50% da produção com a geada. Mesmo assim, o milho ainda é uma opção melhor do que o trigo", afirma Claudemir Franciscatti, 37, que plantou 48 hectares de milho em Cândido Mota.
Ele conta que desistiu do trigo, porque o custo de produção era alto e o preço de venda baixo.
Paschoal Biz, 68, produtor de trigo há 20 anos em Cândido Mota, este ano plantou só milho nos 100 hectares de que dispõe.
``Foi muito mais fácil do que plantar trigo. Plantei tudo em dois dias, sobre os restos de soja, sem precisar mexer na terra, e só gastei R$ 100 em adubação e R$ 90 em sementes", afirma.
Segundo Borges, o clima chuvoso e com temperaturas ainda em torno dos 25ºC indica uma produtividade média de 3.600 kg/ha, podendo atingir o dobro em algumas lavouras.
``Esperamos colher 120 mil toneladas, cinco vezes mais do que na safra de verão", calcula.
A Copermota está desenvolvendo pesquisas juntamente com o Instituto Agronômico de Campinas para obter sementes mais resistentes à geada e falta de umidade do inverno.
A área plantada de milho safrinha em São Paulo cresceu de 284,3 mil hectares em 93 para 379 mil em 94. Mas a geada derrubou a produção de 660 mil t para 522 mil t.
Este ano a Secretaria de Agricultura do Estado ainda não dispõe de números sobre o plantio. A expectativa era de uma queda na área para 369,9 mil hectares.

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