São Paulo, terça-feira, 2 de maio de 1995
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Nova evangelização

Nova evangelização
NELSON DE SÁ
Da Reportagem Local
É a

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

É a nova evangelização, de que tanto fala e escreve o papa João Paulo 2º.
Começou ontem a Redevida, com uma programação ainda cheia de buracos -carregada de documentários e entrevistas e mesas-redondas apenas para preencher a grade- mas toda ela católica.
É o que impressiona: o início de uma espécie de segunda Contra-Reforma, no país que foi em grande parte, como se sabe, uma criação da primeira Contra-Reforma.
- Exprimo a esperança de que, através da nova emissora televisiva, a cultura cristã possa penetrar nos lares dessa querida nação para formar, afirmar e promover uma opinião pública em consonância com o direito natural e com as doutrinas e preceitos católicos, ao mesmo tempo relacionados com a vida da Igreja.
Para tanto, João Paulo tratou de ``invocar do Altíssimo as abundantes graças celestiais" e enviou aos telespectadores da Redevida ``uma propiciadora Benção Apostólica".
Nada melhor para marcar o que d. Luciano, que apareceu continuamente na programação de ontem, lembrou ser o Ano Missionário. Mas a primeira mensagem de d. Luciano, de todo modo, foi para desarmar os ânimos da Reforma:
- Nós gostaríamos que a Redevida pudesse entrar na sua casa, não para tirar outras do ar, pelo contrário. Não vemos outra possibilidade que somar, oferecer alternativa, prestar um serviço. Naturalmente, dentro das nossas finalidades. Nós queremos que este serviço seja iluminado pela nossa fé, pelas palavras e pela vida de Jesus Cristo.
O presidente da CNBB, que é da direção da nova emissora (aliás, emissora que ontem se anunciou diversas vezes como uma ``rede católica", deixando de lado o cuidado anterior de falar em ``rede de inspiração católica"), aceitou desde logo que ela surge muito ``modesta" em programação.
O que há de novo na sua programação, ou de original, por assim dizer, é o Terço no fim da tarde, como vai ocorrer diariamente. O Terço escapou até com facilidade -com um certo jogo de câmeras, com a disposição dos fiéis em coro, mas sobretudo com o impacto das orações- do temido peso da repetição na televisão.
Quanto à Santa Missa, que foi rezada durante a manhã e que provocou longas discussões no início da noite, em tediosa mesa-redonda sobre liturgia, ela acrescentou pouco ou nada às missas bem conhecidas dos domingos de manhã.
Alguma melhoria e maior cuidado na produção do cenário e dos figurinos, mas pouca ou nenhuma inovação nas canções -e sobretudo pouca inspiração no sermão.
A primeira Contra-Reforma teve oradores como Vieira. A segunda, mais preocupada com a forma, ainda gagueja ao falar das ``condições de trabalho", fugindo do conflito. E isso em pleno 1º de Maio.
Mas política não é mesmo questão definida -ainda- na Redevida. Tanto é assim que os cardeais d. Paulo Evaristo Arns e d. Eugênio Salles não deram as caras. Aqui e ali foi possível vislumbrar alguma preocupação com o trabalho social, mas a atenção maior é para com a adoração de Maria.
O que talvez mereça citação, neste sentido, é a presença do ministro Andrade Vieira. Ele surgiu diversas vezes durante a programação. E o Bamerindus, com mensagens sobre ``a força da nossa crença', foi o único patrocinador o dia todo.

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