São Paulo, terça-feira, 2 de maio de 1995
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Líder comunitário espera na fila transplante de rim

Nahildo de Souza militou no PCB e combateu regime militar

FERNANDA DA ESCÓSSIA
DA SUCURSAL DO RIO

Um dos mais importantes líderes comunitários do Rio de Janeiro aguarda na fila de espera um transplante de rim.
Nahildo Ferreira de Souza, 67, toma 24 comprimidos por dia e faz três sessões de hemodiálise por semana. Seus rins deixaram de funcionar e ele não consegue mais urinar.
Nahildo era o presidente da Associação de Moradores de Vigário Geral (zona norte), em 30 de agosto de 93, quando um grupo de extermínio invadiu a favela e matou 21 pessoas. Entre os mortos estava seu filho, Adalberto, então com 25 anos.
Ele é obrigado a fazer um tratamento que retira do sangue as impurezas que os rins não conseguem expulsar de seu organismo através da urina.
Sua barriga, permanentemente inchada, mostra o acúmulo de líquido no corpo. Na semana passada, teve que retirar, através de perfurações na barriga, sete litros de água do organismo.
``Dizem que, pela minha idade, sou o último na fila dos transplantes. Quando chegar a minha vez, terei 71 anos. Os médicos acham que a operação é arriscada", diz Nahildo.
Ele prefere fazer a operação e procura um doador. ``Não aguento mais continuar sofrendo. Prefiro arriscar", afirma.
Ex-militante do PCB (Partido Comunista Brasileiro) e da AP (Ação Popular), organização de esquerda que participou da resistência ao regime militar, Nahildo fez parte das greves de operários contra a deposição do presidente João Goulart, em 1964. Na época, foi preso e perseguido.
A partir de 93, Nahildo comandou as denúncias de que policiais haviam participado da chacina de Vigário Geral e ajudou a criar a Casa da Paz, uma organização não-governamental que leva educação e lazer aos jovens da favela.
O ex-comunista diz que a violência é provocada pela miséria do povo e que ainda quer ver uma revolução operária no Brasil. ``Não tenho medo de morrer, não tenho medo de prisão nem de polícia. Estou tranquilo. Fiz o meu papel, um pedacinho pequeno, para ajudar o meu país."

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