São Paulo, terça-feira, 2 de maio de 1995
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Dolores O'Riordan conquista a América

MARCEL PLASSE
ESPECIAL PARA A FOLHA

Favorita entre fãs de rock e até entre bandas (como as apaixonadas Green Day e The Offspring), Dolores O'Riordan, 23, vocalista do grupo The Cranberries, é o novo símbolo sexual da América.
Os padrões mudaram muito. Há três anos, ela era andrógina demais -cabelo curto, seios pequenos e timidez triste-, para disputar com a espaçosa Madonna a preferência da MTV.
Mas é exatamente isso o que está acontecendo nos EUA, onde a irlandesa de voz tristonha já começa a bater Madonna. Os dois álbuns do Cranberries, ``Everybody Else Is Doing It, So Why Can't We" e ``No Need to Argue", somaram 8,5 milhões de cópias vendidas no país.
Os números tendem a aumentar. Depois que ela foi capa da revista ``Rolling Stone", em março, os ingressos da turnê americana esgotaram-se por antecipação.
Dolores falou à Folha por telefone, de Michigan, nos EUA.

Folha - Você se acha sexy?
Dolores O'Riordan - Eu sou Marilyn Monroe! Não, nunca quis ser um símbolo sexual e acho isso trivial. Se as pessoas me acham sexy, tudo bem, mas ser sexy não é o que faço para viver.
Folha - A mudança de imagem, desde as primeiras gravações, de morena tímida a loira platinada, foi natural?
O'Riordan - A cor do meu cabelo não significa nada. Eu mudo o tempo inteiro -o cabelo, as roupas- só por diversão. O que importa é o que eu sinto. O resto, o exterior, é igual a um pedaço de carne, que não expressa nada.
Folha - O primeiro álbum era mais confessional do que o segundo. Você se sente bem ao falar de coisas íntimas para milhões de ouvintes?
O'Riordan - Quando componho, não penso nos milhões que vão me ouvir, mas no que estou atravessando. Geralmente, estou sozinha quando escrevo.
Mas não me importo em ser ouvida por multidões, porque não acredito que o que sinto seja único. Falo de coisas que qualquer um já experimentou, pois todos passam pelas mesmas coisas.
Folha - Uma das músicas do próximo disco fala em John Lennon. Qual o motivo?
O'Riordan - Tem a ver com o momento que estamos atravessando, porque a música não é só sobre ele: é sobre fama e como é fácil alguém insignificante acabar com a vida de alguém importante.
Folha - Cranberries é comparado a Sinéad O'Connor e ao grupo Sundays. Isso incomoda?
O'Riordan - Sim, porque vendemos milhões de discos a mais do que qualquer um dos dois. É engraçado quando nos comparam a gente que é menos significativa.
Folha - A música do Cranberries, como a de Van Morrison e outros artistas da Irlanda, é muito triste. Por que a tristeza marca tanto a música do país?
O'Riordan - O povo irlandês é muito apaixonado e verdadeiro. Ele compõe música como se estivesse escrevendo poesia. Ao contrário da música do Reino Unido, onde o povo prefere seguir o que está na moda, em vez de expressar o que realmente sente.
Folha - Como você lida com o tratamento dispensado pela mídia ao Cranberries, que passou da indiferença à adulação?
O'Riordan - Acho a mídia uma droga. Os meios de comunicação costumam se repetir, porque as pessoas que os conduzem são cegas, surdas e mudas, incapazes de expressar uma opinião destoante.
Elas ditam regras sobre o que é bom e o que é moda, mas o pior é quem acredita no que sai na mídia.
Nosso sucesso aconteceu sem um único elogio da imprensa britânica. E só depois que vendemos 8,5 milhões de discos fomos capa da revista ``Rolling Stone".
Folha - Por outro lado, por que a imprensa musical britânica continua impassível diante do sucesso do Cranberries?
O'Riordan - Porque somos irlandeses e muito orgulhosos disso. Não fazemos parte da Grã-Bretanha e somos muito sensíveis em relação à nossa independência.

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