São Paulo, quarta-feira, 3 de maio de 1995 |
Texto Anterior |
Próximo Texto |
Índice
'Parceiros do Crime' é mais do que violento
MARCELO REZENDE
Estréia do diretor Roger Avary, parceiro de Quentin Tarantino, foge do modelo do novo cinema independente Uma das razões para a existência de ``Parceiros do Crime", do estreante Roger Avary, é tentar aproveitar tudo que seu parceiro, Quentin Tarantino, descobriu em ``Cães de Aluguel". Não se fala aqui, necessariamente, de explorar algumas opções estéticas, como o uso da violência como linguagem ou, ainda, a recriação da atmosfera dos seriados da TV americana dos anos 70. Mas de algo muito pragmático. No início da produção de ``Cães de Aluguel", quando a equipe procurava locações, acabou descobrindo um banco abandonado, por um preço razoável. Como não seria utilizado em ``Cães", a produção fez uma proposta para Avary: se ele tivesse uma história, poderia utilizar o banco como cenário. Em menos de dez dias o roteiro de ``Parceiros" já estava em fase de acabamento. E, se ``Cães" mostrava as consequências, em um grupo de assaltantes, de um roubo que não deu certo, em ``Parceiros" a história de um assalto fracassado retorna. Só que desta vez a ação não se passa depois do crime. Mas durante sua execução. Eric Stoltz (o ubíquo ator das produções americanas de baixo orçamento) é um especialista em arrombar cofres, que está em Paris para um grande assalto, em parceria com um antigo amigo de adolescência (Jean-Hughes Anglade), um psicopata viciado em heroína. Antes do crime, esse americano é empurrado para uma série de situações que funciona como provação pessoal: a paixão vertiginosa por uma prostituta francesa -a bela Julie Delpy- ou o encontro com os personagens do submundo de Paris. Apesar do sangue em doses fartas e das inevitáveis comparações com o cinema de Quentin Tarantino, ``Parceiros do Crime" de Roger Avary avança em um território que todo o cinema independente americano apenas insinua. A influência do cinema europeu dos anos 60, especialmente o francês, e a angústia de não conseguir se livrar desse fardo. Se para Hal Hartley a saída é a imitação e para Tarantino, a zombaria (como as brincadeiras sobre como os franceses pronunciam o nome de um sanduíche em ``Pulp Fiction"), em Avary a resolução passa pela necessidade de romper com o glamour que o precedeu. Seus criminosos não são heróis existencialistas. Mas apenas assassinos. Assim como sua Paris, mostrada à semelhança de qualquer outra metrópole decadente. Não é um filme tão bem-acabado em relação a sua intenção -ser um policial violento feito com arte. Mas pelo menos não nega o crime de seus companheiros de geração: não conseguir, apesar de toda a pretensão, avançar um milímetro além de seus mestres. Título: Parceiros do Crime Direção: Roger Avary Elenco: Eric Stoltz, Julie Delpy e Jean-Hugues Anglade Distribuição: Look Filmes (av. Vereador José Diniz, 1.548, tel. 011/536-0677) Texto Anterior: Bailarinas e coreógrafas se reúnem até o dia 28 no Centro Cultural Próximo Texto: 'O Corvo' transforma morte de ator em clipe Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |