São Paulo, sexta-feira, 5 de maio de 1995
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Taturana 'assassina' faz 3ª vítima em SP

BETINA BERNARDES
DA REPORTAGEM LOCAL

Taturana `assassina' faz 3ª vítima em SP
O aposentado José Pereira, 66, é a terceira vítima em dez dias do veneno da taturana do gênero Lonomia na Grande São Paulo. O veneno desse tipo de taturana pode provocar hemorragias e levar a pessoa à morte.
Pereira está internado no hospital Vital Brazil, do Instituto Butantan (Butantã, zona oeste), com sangramento urinário.
Segundo a médica Fan Huiwen, 35, seu estado não é grave, ``mas exige observação rigorosa".
Pereira mora em um pequeno sítio em Itapecerica da Serra (Grande SP). Na segunda-feira, ele retirava galhos da beira de um riacho quando apoiou a mão em um tronco com várias taturanas.
``Eu senti a queimadura, passei álcool e continuei a trabalhar", diz. No dia seguinte, Pereira acordou urinando sangue. ``Não fui ao hospital porque achei que não era nada e ia passar logo", afirma.
Ontem, Pereira contou a uma vizinha sobre o sangue. Os dois recolheram algumas taturanas e foram para o Vital Brazil.
``Fora a urina, eu não senti e não sinto nenhum outro problema", diz. Apesar disso, Pereira ainda deverá ficar internado.
``Seu quadro sanguíneo está profundamente alterado, perdeu os fatores de coagulação", diz o médico João Luís Cardoso, 50, diretor do hospital.
Os médicos estão aplicando em Pereira um soro desenvolvido a partir de casos semelhantes verificados no Rio Grande do Sul. ``É uma tentativa, não há tratamento específico", diz Cardoso.
No final da década de 80, começaram a aparecer casos de hemorragias por taturanas no Sul do país, principalmente em Passo Fundo (RS) e Chapecó (SC).
Em Passo Fundo, 10% das pessoas que têm problemas pelo contato com a Lonomia morrem. O índice de mortes por picadas de cobra é de 0,5%.
Em 88, foi registrado o primeiro caso em São Paulo, um menino de São Roque. De 88 para cá, o caso de Pereira é o nono levado ao hospital Vital Brazil e o terceiro em dez dias.
No domingo retrasado, uma senhora de 67 anos foi internada com insuficiência renal após contato com taturanas em um sítio na região de São Roque.
No último sábado, um menino de 7 anos de Cotia também teve contato com a Lonomia, mas não sofreu hemorragias.
As taturanas do gênero Lonomia vivem em locais de mata fechada, úmidos e com pouca luz. Preferem as árvores grandes, como o plátano, cedro e aroeira.
Elas vivem em bandos de 60 a 70 e são lentas. ``As taturanas não atacam e não pulam", explica o biólogo Roberto Moraes, 41, do Butantan.
Medem cerca de sete centímetros e possuem agulhas pelo corpo que injetam o veneno.

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