São Paulo, sábado, 6 de maio de 1995
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Ministro do PMDB barra nomes do partido

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ministro dos Transportes, Odacir Klein, entrou em confronto com seu partido -o PMDB- ao se recusar a nomear para cargos no ministério pessoas indicadas por peemedebistas.
Num jantar com deputados do partido, na última quarta-feira, Klein disse que 5% das indicações não podem ser acatadas por se tratarem de pessoas ``inidôneas".
O ministro se recusou, por exemplo, a nomear o pai do deputado Geddel Vieira Lima (BA), Afrísio Vieira Lima, para presidir a Companhia de Docas da Bahia.
O peemedebista baiano teria dito, na presença de outros parlamentares do seu partido, que o presidente da Câmara, Luís Eduardo Magalhães (PFL-BA), resolveria o problema da nomeação de seu pai, desconsiderando a autoridade de Klein.
Conforme a Folha apurou, o ministro teria respondido que ninguém lhe faria nomear alguém suspeito de estar envolvido em irregularidades. E ainda teria chamado Luiz Eduardo de ``boneca", e de ser manipulado pelo pai, o senador Antônio Carlos Magalhães (ACM), cacique do PFL.
Ontem, após telefonar para Klein, Geddel negou que tivesse discutido com o ministro, mas confirmou ter ouvido seu companheiro de partido se referir ao presidente da Câmara dos Deputados como ``boneca".
Na conversa com a bancada do PMDB na noite de quarta, Klein cobrou o apoio firme do partido ao governo. Disse que se sentia ``desconfortável" no cargo diante da permanente hesitação do maior partido do Congresso em apoiar o governo Fernando Henrique Cardoso.
Nas últimas semanas, as lideranças peemedebistas ameaçaram uma rebelião contra o governo por avaliarem que o partido estava sendo deprestigiado pelo presidente da República.
O PMDB cobrava de FHC uma participação política no governo correspondente ao seu peso no Congresso. A legenda tem 22 senadores e 107 deputados.
A rebelião peemedebista foi contida com a decisão do presidente de aumentar os recursos dos ministérios comandados pelo partido (Transportes, Justiça e Secretária de Políticas Regionais).
Após tomar conhecimento das declarações de Klein no jantar de quarta-feira, o senador ACM saiu em defesa de seu filho.
``Não tenho interesse em fazer essa história prosperar. Fico triste de ver um sujeito com a respeitabilidade do Luís Eduardo ser atingido por pessoas frustradas. A frustração leva o sujeito a ficar bêbado, dizer besteira", declarou o senador, que ainda chamou Klein de ``Barbie do Mercosul".
Em Paris, onde se encontra para as comemorações dos 50 anos do fim da Segunda Guerra Mundial, o deputado Luís Eduardo Magalhães considerou o ataque do ministro do PMDB ``um episódio menor".
``O pior castigo para ele (Klein) é continuar no ministério", afirmou. ``Eu não vou dar pretexto para ministro incompetente que quer sair do governo".
Ontem, Klein disse à Folha que não pretende pedir demissão. Ele afirma que não quis ofender o presidente da Câmara nem seu pai e considera o episódio ``encerrado". À seguir, os principais trechos da entrevista:
Folha - Quais são as provas que o senhor tem da conspiração de peemedebistas contra o convite feito pelo presidente Fernando Henrique Cardoso?
Odacir Klein - É muito estranho ir numa reunião do PMDB e pegar frases contra a minha pessoa.
Folha - Como é o seu relacionamento com o senador Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA)?
Klein - Não tenho nada contra ele. Nunca fiz nenhuma declaração pública contra ele ou contra o filho dele (Luís Eduardo Magalhães). Ele (ACM) é um senador que apóia o governo e não posso me colocar contra ele.

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