São Paulo, sábado, 6 de maio de 1995
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FHC recusa "privatizações selvagens"

CLÓVIS ROSSI; ROGÉRIO SIMÕES
ENVIADO ESPECIAL A LONDRES

ROGÉRIO SIMÕES
O presidente Fernando Henrique Cardoso rejeitou ontem a tese das ``privatizações selvagens", tema recorrente dos partidos conservadores como o PFL e, em especial, dos economistas do PPR que, anteontem, decidiu formalmente apoiar o governo.
``Privatização selvagem é expressão que não corresponde à realidade nem aos interesses nacionais", disse o presidente, em improvisada entrevista coletiva concedida à tarde, à porta da residência oficial da Embaixada brasileira em Londres, na Mount Street 54, onde está hospedado.
Na mesma linha de certa cautela em relação às privatizações, FHC disse que ``não é apertar um botão e está privatizado".
Insistiu em um papel regulador para o Estado: ``Você não pode imaginar que, privatizou, o Estado não tem nada que fazer. Tem que fazer com que a privatização resulte em benefício da população. Nos Estados Unidos, o departamento que controla o setor energético é muito poderoso; aqui (na Inglaterra) também".
O presidente defendeu um novo modelo de Estado, capaz de exercer tal controle, e afirmou que o Ministério das Minas e Energia já está trabalhando na reorganização do DNAEE (Departamento Nacional de Águas e Energia Elétrica), o organismo controlador do setor energético.
``O governo tem que ter sempre a capacidade de observar se as empresas estão seguindo as regras, de evitar que haja monopólio privado e de fazer com que a privatização seja um processo para diminuir o custo e beneficiar o consumidor", completou o presidente.
Todas essas ressalvas no discurso fortemente privatizante do governo foram, paradoxalmente, expressas depois que FHC recebeu os presidentes da British Gas (privatizada pelo governo britânico), Cedric Brown, do Midland Bank, William Burves, e do Rotschild Bank, Evelyn Rotschild.
Todos saíram das audiências manifestando interesse a respeito da privatização no Brasil.
``Estou extremamente excitado" (com as perspectivas de parcerias com a Petrobrás no Brasil e mesmo em outros países), chegou a dizer o presidente da British Gas.
A empresa britânica está associada à Petrobrás para a construção de um gasoduto que trará gás da Bolívia para o Brasil. Foi o projeto que discutiu com FHC.
Mas admitiu que o gasoduto ainda depende de uma série de definições, como o volume de gás a ser transportado e o preço que a Bolívia cobrará por ele.
Já Burves, do Midland, foi mais lacônico. Preferiu dizer, sobre a possibilidade de investimentos no Brasil: ``As coisas tomam tempo, nada é imediato".
Evelyn Rotschild fez questão de lembrar que seu grupo é o de maior experiência no mundo em matéria de privatização, está presente no Brasil há mais de 150 anos e gostaria de participar de eventuais privatizações na área energética, de recursos naturais (óbvia alusão à Vale do Rio Doce) e dos bancos estaduais.
Mas o banqueiro foi além: sugeriu modificações na legislação trabalhista brasileira, que ``é mais rígida do que aqui". Motivo: quando se privatizam empresas estatais, a tendência é demitir funcionários para aumentar a competitividade da nova empresa.
Rotschild delegou a FHC a responsabilidade quase total pela aceleração ou não das privatizações.
Disse que elas dependem, fundamentalmente, de ``vontade política" e chegou até a lembrar Margaret Thatcher, primeira-ministra britânica entre 79 e 91, que fez uma blitz privatizante.
``Sem ela, nada teria ocorrido", afirmou Rotschild. Com essa frase, ele está defendendo as ``privatizações selvagens". Foi exatamente isso que Thatcher fez no Reino Unido.

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