São Paulo, sábado, 6 de maio de 1995
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FHC quer discutir especulação

CLÓVIS ROSSI; ROGÉRIO SIMÕES
DO ENVIADO ESPECIAL E DE LONDRES

O presidente Fernando Henrique Cardoso vai discutir hoje pela manhã, com o primeiro-ministro britânico, John Major, ``mecanismos que tornem possível controlar a especulação desenfreada".
A informação foi dada ontem pelo próprio FHC.
Será, se cumprida a promessa, a terceira etapa de um discurso com o mesmo conteúdo, iniciado na visita a Santiago do Chile, em março, e retomado na ida aos Estados Unidos, no mês passado.
É claro reflexo da principal preocupação internacional do presidente, desde que a crise mexicana escancarou os riscos da irrestrita liberdade de movimentos dos mercados financeiros.
``Estamos comemorando 50 anos do fim da guerra e as instituições (financeiras internacionais) foram feitas logo em seguida à guerra. Meio século é muito tempo, o mundo mudou muito. Temos que mudar tais organizações", disse FHC.
O presidente reclama que ``não tem cabimento que o Brasil pague a certos bancos de desenvolvimento, como o BID e o Banco Mundial, mais juros do que recebe, ou seja, que transfira capital".
FHC está convencido de que esse tipo de problema deixou de ser apenas do mundo em desenvolvimento.
``Com a globalização da economia, acabou a história de que certos problemas afetam só os em desenvolvimento. Você tem um efeito dominó, que acaba caindo também nos países já desenvolvidos", afirma.
A proposta brasileira para alterar as instituições financeiras internacionais inclui aumentar o volume dos DES (Direitos Especiais de Saque, moeda de existência apenas contábil do FMI), para socorrer países em dificuldades.
Defende também um monitoramento mais detalhado da economia de cada país-membro, o que já foi aceito pelo FMI.
``Não adianta ter UTI (Unidade Tratamento Intensivo) para países em situação difícil. Tem que haver prevenção", diz o presidente.

Derivativos
Enquanto FHC discursa, alguns países estão agindo.
O Banco Central da Tailândia, por exemplo, acaba de baixar normas para reduzir o uso indiscriminado de derivativos pelos bancos comerciais.
Bolsa de derivativos é o nome de uma espécie de bolsa de apostas no futuro dos preços de uma infinidade de bens, produtos ou serviços, como café, taxa de juros, dólar etc. É tido pela ONU como mercado fortemente especulativo.
O Estado australiano de Victoria também proibiu operadores estatais de fazer contratos em derivativos diretamente com o setor privado.
São os primeiros passos de uma discussão que se tornou prioritária no mundo, em face da convulsão nos mercados financeiros e cambiais.
(Clóvis Rossi e Rogério Simões)

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