São Paulo, sábado, 6 de maio de 1995
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Governistas querem imposto para dar subsídio a ruralistas

MARTA SALOMON; SILVANA QUAGLIO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Está em curso uma negociação no Congresso para trazer de volta o IPMF (Imposto Provisório sobre Movimentação Financeira), o chamado imposto do cheque, que vigorou no ano passado e previa o desconto e recolhimento aos cofres públicos de 0,25% sobre o valor de qualquer débito bancário.
O imposto, que arrecadou cerca de R$ 4,5 bilhões, financiaria agora gastos com a saúde e empréstimos para produtores rurais.
Pressionados por parlamentares ligados às áreas rural e da saúde, líderes governistas encamparam a idéia e esperam obter o sinal verde do Palácio do Planalto.
A taxação das movimentações bancárias geraria recursos para tapar o rombo estimado em R$ 3,4 bilhões do Ministério da Saúde e ainda financiar um fundo especial para empréstimos agrícolas.
O líder do governo no Senado, Élcio Álvares (ES), vai sugerir a volta do imposto ao presidente Fernando Henrique Cardoso logo após o retorno da viagem a Londres, no domingo.

Problemas legais
O princípio da anterioridade, previsto na Constituição, implica que um imposto só pode vigorar no ano seguinte à sua aprovação. Portanto, para que o novo IPMF vigorasse já em 95, seria preciso aprovar uma emenda constitucional alterando esse princípio.
Emendas constitucionais só são aprovadas com o voto de 60% da Câmara (308 deputados) e 60% do Senado (54 senadores) em duas votações independentes.
Álvares dirá a FHC que a proposta poderá ser aprovada com o apoio maciço dos parlamentares ligados a donos de hospitais e aos ruralistas. Os dois setores detêm bancadas suprapartidárias com mais de cem parlamentares cada.
Líderes governistas encaram o IPMF como o ``ovo de Colombo" para os problemas de caixa do governo. A falta de dinheiro para financiar a agricultura e pagar a conta dos hospitais é considerado um problema urgente, que exige uma solução de emergência.
FHC reconhece que a dificuldade dos agricultores em honrar os empréstimos que tomaram nos bancos pode abalar as estruturas do Plano Real. O presidente teme um surto de falências no setor.
Mesmo após ter sido informado que, legalmente, os empréstimos agrícolas poderiam ser corrigidos pela TR (taxa referencial de juros), FHC manteve a decisão de reduzir o custo dos financiamentos para os agricultores.
Uma das alternativas em estudo é a aplicação de recursos do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador) na agricultura, com juros abaixo dos de mercado.
No governo, a volta do IPMF conta com um lobby declarado de dois ministros: Adib Jatene (Saúde) e José Eduardo Andrade Vieira (Agricultura). Andrade Vieira quer escapar ao controle de verbas orçamentárias por parte da equipe econômica e administrar um fundo especial de financiamento.
O ministro do Planejamento, José Serra, acha que o governo não deve tomar a iniciativa de propor a volta do IPMF.
Ele argumenta que não faz parte da política de governo criar impostos para cobrir rombos de caixa.
Durante a campanha para presidente, FHC se comprometeu em não estender a cobrança do IPMF após dezembro passado.

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