São Paulo, sábado, 6 de maio de 1995
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75% dos paulistanos doariam órgão para transplante

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

A maioria dos paulistanos está disposta a doar seus órgãos para transplante, mas não sabe o que fazer para autorizar a doação. A constatação aparece em pesquisa do Datafolha que ouviu 649 pessoas na cidade de São Paulo.
A situação já foi pior cinco anos atrás. Pesquisa realizada pelo Datafolha em fevereiro de 1990 mostrou que 80% não sabiam como fazer uma doação. E a intenção de doar -que hoje é de 75%- era de apenas 63%.
Nessa última pesquisa, 15% disseram que não doariam, 2% colocaram condições específicas para fazer a doação e 8% não souberam responder.
A falta de informação não é um problema apenas de leigos e possíveis doadores. ``Muitos médicos não sabem como agir diante de um caso de doação de órgãos", diz Alfredo Inácio Fiorelli, 42, coordenador da Central de Transplantes da Secretaria da Saúde e cirurgião do Incor.
Desde a Constituição estadual paulista de 1989, todos os hospitais são obrigados a informar a Secretaria da Saúde sobre os casos de morte cerebral.
A partir de 93, um decreto federal estendeu essa obrigatoriedade para todo o país. Poucos hospitais obedecem a lei.
Morte cerebral ocorre quando o cérebro deixa de comandar as funções do organismo e apenas o coração continua batendo. Acontece na maioria das vezes com vítimas de acidentes de trabalho, trânsito ou tiro. Só em São Paulo, entre 25 e 35 mortes desse tipo ocorrem por dia.
Se metade das vítimas doasse seus órgãos, as pessoas deixariam de morrer nas filas esperando por um transplante.
Segundo Fiorelli, só no Estado de São Paulo mais de 15 mil pessoas estão esperando por um órgão: cerca de 100 aguardam por um coração, outros 100 por um fígado, 4 a 5 mil esperam um rim e mais de 6 mil precisam de uma córnea.
José Egídio Romão Júnior, da Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), estima que 65% dos 25 mil pacientes que fazem diálise no país poderiam se beneficiar de um transplante. São mais de 15 mil pessoas. A diálise é quando uma máquina filtra o sangue de uma pessoa, fazendo o papel do rim.
Se recebessem um rim novo, os pacientes se livrariam de 12 horas de hemodiálise por semana, voltariam ao trabalho e o Estado faria uma grande economia.
Segundo Romão Júnior, sete meses de hemodiálise a preços do SUS (Sistema Único de Saúde) são suficientes para pagar um transplante de rim, a preços de mercado.
``Os baixos valores oferecidos pelo SUS fazem com que apenas alguns hospitais se interessem em fazer transplantes", diz Romão.
Na fila de transplantes de coração e de fígado, apenas um quarto consegue um transplante. Os outros acabam morrendo aguardando um doador.
Após a morte cerebral, os médicos têm entre 12 e 24 horas para retirar os órgãos. O coração, o mais delicado dos órgãos, tem quatro horas par ser implantado.

A pesquisa Datafolha é um levantamento estatístico por amostragem estratificada por sexo, idade, com sorteio aleatório dos entrevistados. O Datafolha é dirigido pelos sociólogos Antonio Manuel Teixeira Mendes e Gustavo Venturi e tem como assistentes Mauro Francisco Paulino e a estatística Renata Nunes César. A direção comercial é de Eneida Nogueira e Silva. A coordenação e análise foram feitas por Luciana Chong e o planejamento da amostra por Teresinha Peret.

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