São Paulo, sábado, 6 de maio de 1995![]() |
![]() |
Texto Anterior |
Próximo Texto |
Índice
Juro 'oficial' encosta no do agiota
FERNANDO CANZIAN
Com a aproximação das taxas, a agiotagem -atividade ilegal que empresta dinheiro a juros exorbitantes- proliferou nas últimas semanas. ``Não temos o que reclamar do movimento", diz Marcos (não quis dar o sobrenome), agiota visitado pela Folha em escritório que funciona na rua Marconi, no centro de São Paulo. Ele faz empréstimos de até 40% do valor bruto do salário de seus clientes e cobra juros de 30% ao mês. Tem feito entre 10 a 15 empréstimos diários. Outra empresa do ramo, consultada a partir de anúncios em jornais, começou a operar na segunda-feira e empresta no máximo R$ 1.000,00 a juro mensal de 35%. Algumas financeiras que operam legalmente no mercado já estão cobrando juros de 21,5% ao mês para empréstimos diretos a pessoas físicas. O juro pode beirar os 40% em casos de prestações em atraso. As taxas nas financeiras voltaram a subir por causa das novas medidas de restrição ao consumo tomadas pelo Banco Central na semana passada. Compare o custo de um empréstimo de R$ 1.160,00, em três vezes, num agiota e em uma financeira: No agiota (com juro de 30% ao mês) - o dinheiro é emprestado em 10 minutos em troca de três cheques pré-datados de R$ 638,72 cada. O agiota exige cópia do CIC, do RG e um comprovante de endereço. Ele empresta até 40% do total da renda mensal do cliente (o mínimo comprovado no holerite deve ser de R$ 2.900,00). Na financeira (juro de 21,5%) - o cliente sai com apenas R$ 1.125,34, R$ 34,66 a menos do que planejava -isto porque tem de pagar IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) de 18% sobre o empréstimo. Vai pagar três prestações de R$ 563,66 (R$ 75,06 ao mês menos do que pagaria a um agiota). O cliente precisa ter ficha cadastral limpa (sem registro de calotes anteriores) e poderá emprestar no máximo o equivalente a 25% do que ganha. Para ``levantar" R$ 1.160,00 na financeira, teria de ganhar no mínimo R$ 4.640,00. E só poderia emprestar o dinheiro em no máximo três vezes (segundo normas do Banco Central). Nos agiotas, o prazo vai até seis meses. Atualmente, para cada R$ 100,00 que uma financeira empresta a clientes, ela tem que captar de um investidor R$ 168,00 -em função dos diversos compulsórios (depósitos obrigatórios) que tem de fazer no BC. O dinheiro depositado no BC não é remunerado totalmente, e é o consumidor quem paga a diferença. Calotes O calote (inadimplência) geral no comércio -que subiu 266% no mês passado sobre abril de 94- explica em parte o aumento da agiotagem no país. Segundo os agiotas, muitos dos clientes são pessoas que tomam emprestado para pagar carnês de lojas que vão vencer -a falta de pagamento comprometeria o histórico cadastral do consumidor. Outros são pessoas que pagaram seus carnês e que ficaram sem dinheiro para as despesas do dia-a-dia. Texto Anterior: Unibanco lucra R$ 32,8 milhões no trimestre; Consultas ao SCI caem 19,9% em abril; Joalheria Bulgari decide abrir capital Próximo Texto: Músico paga taxa oficial de 37,8% Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |