São Paulo, domingo, 7 de maio de 1995 |
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London, London
MARCOS AUGUSTO GONÇALVES
Bond, James Bond, era careta, numa época em que smoking, cabelos alinhados e defesa de potências ocidentais não faziam parte do filme projetado na cabeça da juventude que não usava black-tie. E o agente a serviço de Sua Majestade, apesar da fama dos britânicos, usava e abusava das mulheres, sempre, como se dizia, caídas por ele. Inimigas inclusive. As feministas não gostavam -embora, secretamente, aquela pistola... Bem, mas com tudo isso, mesmo na passeata da liberação dos sixties o agente do MI-5 teve seu cartaz: o clima irônico, o humor, o entusiasmo com brinquedinhos tecnológicos, a relativa permissividade sexual, os ambientes futuristas, as cores, as aberturas, a ``estética", enfim, da coisa, acabaram transformando a série num ícone do universo pop. Bond, portanto, entrou para o alfabeto visual de toda uma geração, ao lado dos quadrinhos, dos cartazes, da publicidade etc. Claro que o agente de hoje é um clone bocó do velho 007. O verdadeiro Bond foi definitivamente sepultado pela dupla Thacher & Reagan, que transformou a Guerra Fria numa fábula intergaláctica e truculenta, mais ao feitio dos músculos da dupla Schwarzenegger & Stallone do que do olhar sedutor do escocês Sean Connery. O declínio de 007 é também o declínio do Reino Unido como potência ocidental. A troca do sóbrio agente secreto, com autorização para matar, pelos exterminadores de Hollywood -que só sabem matar- corresponde, de alguma forma, a essa passagem de guarda de ingleses para norte-americanos. Bond, ao contrário dos mastodontes da era Reagan, era elegante, inteligente e suava pouco. Uma espécie de FHC da espionagem. Texto Anterior: Entenda o que foi a guerra Próximo Texto: Socialismo blablablá Índice |
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