São Paulo, domingo, 7 de maio de 1995
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Erro de cálculo

ANDRÉ LAHÓZ
EDITOR DE ECONOMIA

Os últimos dez dias foram marcados por uma reversão impressionante nas expectativas dos agentes econômicos.
O governo, acusado de inoperante e incapaz, aparece agora obtendo vitórias no Congresso e liderando o processo de modernização da economia. Ocorre, no entanto, um provável exagero nesta percepção.
Não se trata de diminuir os avanços obtidos na última semana para FHC. No campo político, as primeiras vitórias do governo no processo de revisão constitucional representam um avanço inequívoco.
Além disso, parece que o governo começa a melhorar sua articulação política.
No campo econômico, as sucessivas ações de contenção do consumo, aliadas a medidas pontuais de restrição às importações, deixaram a sensação de que o governo volta a ter controle sobre a economia.
Mas é cedo para comemorar.
Em primeiro lugar, confiar no apoio de FHC no Congresso é, no mínimo, temerário. Não há evidência de que a adesão de siglas à base de suporte realmente se traduza em votos.
Mais seguro é dizer que o governo continuará a ter que negociar, caso a caso, com grupos de parlamentares ligados a interesses específicos.
Além disso, também é arriscado apostar na coesão, supostamente crescente, da equipe.
Por outro lado, se é cedo para apostar na morte no curto prazo do Plano Real, há vários problemas a resolver.
Não há nenhuma evidência de que as medidas anticonsumo sejam eficazes no controle da demanda. Afinal, a cada ação tomada, o mercado parece encontrar uma forma de driblar a restrição.
É preciso tempo para avaliar o sucesso destas medidas.
Mas, se as mesmas se mostrarem insuficientes, cresce o risco de permanência de alta da inflação e de importações elevadas. E o governo se veria forçado a tomar novas medidas (como a desvalorização do câmbio, por exemplo), arcando com forte desgaste.
Além disso, o Plano Real tem pela frente talvez o seu maior desafio: a desindexação da economia. E o governo está longe de ter resolvido esta questão.

Hoje, excepcionalmente, Luiz Carlos Mendonça de Barros não escreve nesta coluna.

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