São Paulo, domingo, 7 de maio de 1995
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"Obras de arte" têm mercado próprio

VERA BUENO DE AZEVEDO
DA REPORTAGEM LOCAL

``Obras de arte" têm mercado próprio
Existem jóias que são realmente consideradas obras de arte. Neste caso, mais que os materiais empregados, a raridade e antiguidade são fatores de valorização.
É o caso das ``jóias baianas", genuinamente brasileiras, mas com forte influência portuguesa, que valem entre US$ 4.000 e US$ 10.000, segundo o marchand Renato Magalhães Gouvêa.
Foram confeccionadas no século passado, na Bahia (e em Pernambuco, em menor escala), por ourives brasileiros e portugueses.
Sua identificação é fácil, já que não têm nada de ``discretas". São os balangandãs das baianas, com os quais os senhores presenteavam suas escravas favoritas.
Grossas correntes de ouro (que chegam a dois metros de comprimento), pulseiras de copos (para serem usadas na parte superior do braço), pulseiras com pencas de balangandãs, braceletes largos (formados por retângulos de ouro muito trabalhados e articulados) e crucifixos de ouro maciço, por exemplo, fazem parte deste grupo de jóias raras.
Seu valor aumenta ainda mais se possuírem a assinatura do ourives, a esfinge do imperador, o brasão de uma família tradicional ou a incrustação da coroa real.
Há outras jóias antigas, de origem portuguesa ou francesa, também do século passado, que fazem parte do sofisticado mercado de arte. ``Mas nem por isso alcança-se por elas o preço que realmente valem", diz Gouvêa.
São identificadas, em primeiro lugar, pelos materiais utilizados: ouro, prata, diamante (brilhante não totalmente lapidado, com menor brilho), mina nova, crisólita, rubilite, granada, opala e, em menor escala, rubi e esmeralda.
``A opala deixou de ser usada posteriormente, porque propagou-se a crença de que era uma pedra de dava azar a quem a usava", explica o marchand.
São peças do tipo ``Art Nouveau", em estilo floral (na forma de folhas, flores, libélulas e borboletas) e ``Art Déco", em formas geométricas.
A lapidação é do tipo ``Brasil", ou seja, a praça (parte lisa, em cima da pedra) é pequena em relação ao seu diâmetro.
Nas jóias mais modernas, a lapidação é ``Amsterdam", onde a praça é do mesmo tamanho do diâmetro da pedra, o que permite maior entrada de luz, tornando-a mais brilhante, mas menos valiosa para os colecionadores.
``Hoje, há quem compre jóia com lapidação Brasil e corte a parte superior das pedras, para deixá-las mais brilhantes e, portanto, mais bonitas", explica Gouvêa.

Imponderável
Para exemplificar o valor ``relativo" das jóias em geral, Gouvêa conta que, quando Cartier resolveu abrir sua loja em Nova York, quis comprar um imóvel localizado em uma esquina da 5ª Avenida.
A proprietária, Vanderbilt, não tinha interesse na venda e fez uma proposta quase impossível de ser concretizada. Só trocaria o imóvel por um colar com três voltas de pérolas, todas absolutamente iguais, medindo 16 mm.
Cartier levou alguns anos, mas conseguiu o colar e a troca foi feita. Ou seja, o preço da jóia foi o mesmo de um imóvel na 5ª Avenida, em Nova York, uma das regiões mais valorizadas do mundo.

Ouro e brilhante
Quando se tratam de jóias de ouro, seu valor sofre influência direta das cotações do dia nas Bolsas de Nova York e Londres.
Mas quando alguém decide vender uma peça, os compradores profissionais descontam um percentual correspondente às ligas de cobre e prata que são misturadas ao metal e outro por seu lucro.
Com relação ao brilhante, os compradores utilizam uma tabela de preços internacional, composta por quatro itens: cor, pureza, lapidação e grandeza da pedra. Cada item possui especificações que interferem no preço final.
Quanto maior o brilhante, mais ele vale. Segundo Gouvêa, uma pedra pura, de até três quilates, custa entre US$ 2.000 a US$ 2.500 o quilate. Acima disto e até seis, o quilate sobe para a faixa de US$ 3.000 a 4.000.
(VBA)

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