São Paulo, domingo, 7 de maio de 1995
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Real traz recorde de vendas à Casas Bahia

SUZI GASPARINI
DA FOLHA ABCD

Uma carroça e alguns cobertores. Com esses ingredientes, o hoje proprietário da Casas Bahia, Samuel Klein, 71, começou a construir seu império, que hoje chega a 111 lojas e 7.000 funcionários.
A Casas Bahia espera fechar 95 com recorde no faturamento, que deverá esbarrar na casa de US$ 1 bilhão, US$ 60 milhões a mais que no ano passado.
O empresário, judeu polonês, foi prisioneiro de um campo de concentração nazista em Maidanek (Alemanha) na 2ª Guerra Mundial. Hoje, acumula um patrimônio de R$ 300 milhões.
Klein atribui à sorte o fato de ter se instalado em 1952 em São Caetano do Sul (SP), cidade em franco crescimento à época.
As atividades de comerciante de Klein começaram com a venda de cobertores de porta em porta. Com as economias, abriu em 58 sua primeira loja em São Caetano.
O nome, Casa Bahia, homenageia os que, segundo Klein, o ajudaram a chegar onde chegou. ``Os baianos formavam grande parte de minha freguesia."
Apesar de todo o dinheiro que movimenta, o empresário explica que conserva hábitos simples.
``Não me preocupo com roupa bonita ou luxo. Adoro arroz com feijão. Gosto da simplicidade", afirma Klein.
A maioria das lojas de Klein está instalada em bairros populares e em cidades onde há grande concentração de operários.
O empresário disse que não pretende investir em negócios voltados para outro perfil de consumidor.
``Cresci no comércio, vendendo produtos para o povão. É mais fácil lidar com consumidores simples. Além disso, eles pagam suas contas em dia." A seguir, os principais trechos da entrevista.

Folha - O senhor teme que as novas medidas anticonsumo comecem a frear as vendas?
Samuel Klein - Não. Para as vendas de eletrodomésticos e móveis, os produtos de minhas lojas, não deve haver retração. O consumidor vai continuar a comprar.
Folha - Como estão as vendas em sua rede de lojas?
Klein - Não tenho absolutamente nada do que reclamar. Desde a implantação do real, no dia 1º de julho de 94, venho registrando aumento nas vendas.
Hoje, as Casas Bahia vendem em média 60% mais que em junho de 94. Em algumas lojas, o volume de vendas aumentou até 80% no período. Tive sorte.
Folha - Foi uma questão de sorte ou a implantação do Real ajudou nas vendas?
Klein- Na verdade, os dois. O Plano Real fez aumentar o número de vendas para quem trabalha com o público C, o chamado povão, que é o público da Casas Bahia.
Quem vende produtos para consumidores da classe A, com certeza não registrou aumento nessa proporção.
Folha - Qual a explicação para o aumento de vendas de produtos destinados à classe C?
Klein- O poder de compra dos assalariados foi aumentado. Esse aumento foi investido na compra de produtos baratos.
Um eletrodoméstico é muito mais em conta do que um carro e é viável para os assalariados, principalmente se ele tiver a oportunidade de comprar a prazo.
Folha - As compras a prazo são maioria em suas lojas?
Klein- Cerca de 85% das vendas são a prazo. Temos prazo até dez pagamentos.
Folha - Como foi planejado o crescimento da rede?
Klein- Procuro bairros populares e cidades operárias. Nossa política de crescimento é junto à classe popular.
Folha - A rede mantém alguma loja em shopping center?
Klein- Uma única loja, no shopping Osasco. Essa loja foi montada porque o shopping é popular, diferente do Morumbi.
Folha - O senhor tem planos para atingir outros mercados e outro público?
Klein- Não pretendo mudar de linha de atuação. Minhas lojas atingem o povão e ficam em pontos populares.
Meu público não está no shopping, e em time que está vencendo não se mexe. A Casas Bahia têm também produtos para as classes A e B, como microondas, videocassete, mas esses produtos não são nem de longe nosso carro-chefe.
Minha filosofia é a de vender produtos necessários. Não me preocupo com o luxo. Além do mais, não há melhor freguês do que pessoas simples.
Folha - Como estão os investimentos para este ano? A rede vai abrir novas lojas?
Klein- Estamos fechando a pauta de investimentos. Por enquanto, não posso falar sobre a ampliação do número de lojas.
Folha - O senhor investe pesado em publicidade. Seu investimento é maior que a General Motors e Bradesco, por exemplo. O retorno compensa?
Klein- Em 94, investimos US$ 61 milhões em publicidade e devemos continuar neste patamar.
Folha - O senhor já pensa em como vai funcionar a sucessão de sua rede de lojas?
Klein- Sinto-me com muitas disposição para trabalhar muitos anos mais. Meus filhos trabalham na empresa.

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