São Paulo, domingo, 7 de maio de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Eleição na Argentina é fonte de incertezas

GILSON SCHWARTZ
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Erramos: 10/06/95
Os ventos da economia internacional voltaram a soprar favoravelmente aos mercados latino-americanos. Indicadores econômicos dos EUA mostrando desaceleração do crescimento ajudaram a confirmar as expectativas de estabilidade nos juros internacionais.
Tanto o dólar quanto o peso mexicano estão bem comportados, levando-se em conta as turbulências de março e abril. A única nuvem que ainda paira no horizonte de curto prazo das economias emergentes é a eleição argentina.
As Bolsas e os títulos de dívida latina continuaram em alta na semana passada, mas sofrendo arranhões a cada notícia de que talvez o presidente Menem não seja eleito no primeiro turno. Os mercados fecharam na última sexta-feira embalados no boato de que uma nova pesquisa, a ser divulgada nesse fim de semana, confirmaria um segundo turno.
O jornal ``Ambito Financiero" convocou sete economistas para debater o assunto. Três disseram que nada muda se Menem não se reeleger no primeiro turno. Três esperam uma catástrofe. Um ficou em cima do muro.
O esquema de apoio aos bancos, criado em abril para evitar uma quebradeira em série, também levanta dúvidas e angústias. Criou-se por exemplo um novo sistema de emissão e endosso de cheques, muito mais severo. A austeridade do sistema e a possibilidade de endossar, entretanto, são medidas que também têm alguma ambiguidade.
O endosso, por exemplo, tornou-se necessário simplesmente porque em muitos casos o banco simplesmente não tinha em caixa os fundos que o cliente registrava a seu favor. Uma situação exótica, em que o cheque tem fundos mas o banco não.
Criou-se também um sistema de multas para emissão de cheques sem fundos. Entretanto, a multa que atinge o correntista irresponsável é automaticamente debitada, pelo Banco Central, das reservas do próprio banco.
Não é difícil imaginar o que aconteceria num sistema desses no caso de uma súbita fuga de capitais. Ele quebraria automaticamente, porque a rede de segurança depende totalmente da manutenção de reservas em moeda estrangeira.
Entretanto, o crescimento brasileiro de 9% no primeiro trimestre é uma taxa chinesa que o governo está procurando reduzir. O objetivo é equilibrar a balança comercial brasileira. Nesse caso, para o ajuste brasileiro dar certo é quase inevitável estragar a festa de exportações argentinas.
Conclusão: o resultado da eleição argentina pode ser decisivo. Mas os problemas, com ou sem Menem, parecem ainda graves o bastante para inspirar cautela frente à ``reemergência" dos mercados latinos.

Texto Anterior: Qualidade do voto; Eleição questionada; Outra consulta; Defesa pessoal; Sem reserva; Por exemplo; Números preliminares; Versão oficial; Fora do pregão; Outras culturas
Próximo Texto: Qualidade total na Petrobrás
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.