São Paulo, domingo, 7 de maio de 1995
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Qualidade total na Petrobrás

JOEL MENDES RENNÓ

No grande mercado aberto em que se está transformando o mundo, a qualidade tornou-se um componente estratégico da moderna gestão empresarial e vem ocupando crescentemente os mais altos níveis da administração das companhias, com vistas à excelência empresarial e à liderança no seu ramo de negócio.
As demandas de um novo tipo de consumidor, mais exigente, disposto a pagar somente pelo valor que atribua a determinado bem ou serviço, a crescente consciência relativa à proteção do meio ambiente, as dificuldades econômicas gerais, a escassez de recursos e, do lado das empresas, o acirramento da competição comercial, delineiam o cenário no qual o fator qualidade assume o papel de estratégia-chave.
A empresa preparada para estes novos tempos é a que conduz seus negócios buscando incessantemente a satisfação dos que recebem o impacto direto ou indireto de suas atividades, produtos e serviços, os ``stake-holders", clientes, colaboradores, acionistas, fornecedores, a sociedade, enfim.
Na cultura gerencial da escola dos chamados ``financistas de Wall Street", a gestão concentrava sua atenção nos resultados econômico-financeiros imediatos, reduzindo seu ocular para a visão do curto prazo.
Na qualidade total, os resultados empresariais que viabilizam a permanência da empresa no mercado são vistos como decorrência de sua capacidade de encantar seus clientes ou consumidores, promover o crescimento pessoal de seus empregados de modo integrado aos objetivos da organização, conseguir taxas atrativas de retorno para os investimentos de seus acionistas, aumentar as oportunidades de negócio para os fornecedores e contribuir de modo decisivo para o desenvolvimento da sociedade.
O esforço da gestão é o de melhorar continuamente produtos, processos e pessoas da própria organização. Como as expectativas e necessidades dos clientes alteram-se constantemente, a qualidade total persegue um alvo móvel.
Estas perspectivas são princípios básicos, aos quais se associa a tomada de decisões com base em fatos e dados, formando-se então o fundamento do modelo da gestão pela qualidade total (GQT). Utilizando técnicas e métodos científicos de trabalho, os princípios da GQT ganham consequência prática como ferramenta altamente eficaz da gestão empresarial, indispensável no plano mundial da economia globalizada.
Do ponto de vista do desenvolvimento e estabilização da economia do país, a qualidade total é fator-chave, ao induzir os ganhos de produtividade, redução de desperdícios, ao incentivar a diferenciação dos produtos e serviços por uma maior agregação de valor e pelo decorrente aumento da competitividade.
De modo particular no Brasil, vive-se uma surpreendente revolução da qualidade, envolvendo empresas de diferentes portes e de variados ramos de negócios. Este fato pode ser atestado pelo crescimento do número de certificados ISO 9.000 obtidos pelas empresas nacionais, o que lhes têm aberto oportunidades nos mercados internacionais, altamente competitivos. Temos hoje, no país, mais de 500 empresas certificadas por organismos certificadores de renome internacional.
Quanto à Petrobrás, desde o início da década de 80, consciente de seu papel junto à sociedade brasileira, seu maior cliente, vem adotando os princípios e métodos de qualidade total em suas operações. Inicialmente, através do incentivo e promoção do desenvolvimento de seus fornecedores, ao exigir, contratualmente, a partir de 1982, a adoção de sistemas de garantia de qualidade. Estas exigências hoje se baseiam nas normas da série ISO 9.000.
Mais recentemente, em junho de 1991, por decisão de sua diretoria, um processo bem mais amplo, envolvendo todo o sistema produtivo, até os clientes finais, foi definido com a adoção da gestão pela qualidade total em toda a companhia.
Dentro do processo de planejamento estratégico da empresa para a década, a avaliação dos cenários para sua atuação e de seu diagnóstico interno levou à imediata adoção da GQT.
O programa implantado baseia-se num conjunto de seis estratégias, mediante as quais foi lançada uma base conceitual comum para toda a companhia, tendo sido definidas, a seguir, ações descentralizadas para as áreas operacionais.
Além disso, as estratégias de implantação incluem a avaliação sistemática do andamento do processo. Para esta etapa, a empresa se vale dos critérios de excelência do Prêmio Nacional da Qualidade, versão brasileira do prestigioso prêmio Malcolm Baldrige, norte-americano.
Tais avaliações são realizadas em todos os órgãos da Petrobrás, periodicamente, por equipes internas, e na companhia como um todo, anualmente, por equipe integrada por especialistas de outras empresas, tendo em vista a meta fixada pela alta administração para 1997.
De modo específico, a Petrobrás, no contexto da qualidade total, vem implantando sistemas de garantia da qualidade segundo os requisitos da ISO 9.002 para algumas linhas de produtos definidas como prioritárias, já tendo obtido a certificação para produção e comercialização de parafinas e lubrificantes básicos, pelo ``Bureau Veritas Quality International" (BVQUI).
Os resultados da qualidade total têm sido bandeira de mobilização dos empregados em busca da melhoria da companhia, cresce a visão sistêmica e a integração entre as áreas vem sendo também grandemente estimulada.
Quanto a resultados empresariais, contabiliza-se um aumento contínuo na produção de petróleo bruto, passando de 580 mil barris diários (bpd) em 1988 para 700 mil bpd em 1994, já tendo tingido 760 mil bpd no corrente ano. O custo operacional unitário de extração de petróleo vem caindo sistematicamente, saindo de US$ 8,00 o barril em 89 para US$ 4,50 em 94.
A Petrobrás Distribuidora, operando fora do regime de monopólio, vem consolidando sua posição de líder, detendo 36% do mercado nacional de distribuição de combustíveis, e está igualmente engajada no processo de qualidade total.
Quanto aos cuidados com o meio ambiente, os resultados da companhia vêm confirmando o acerto da estratégia da gestão pela qualidade total. A empresa recebeu a indicação do``Tanker Advisory Center", como a companhia de petróleo que menos poluiu os oceanos em 1992. Os níveis de derramamento de óleo no mar caíram dramaticamente a partir de 1991, apresentando patamares muito inferiores aos das grandes companhias multinacionais de petróleo.
Iniciativas como a busca constante por melhor qualidade têm sido promovidas pela empresa como parte importante de suas atividades e constituem etapa fundamental no processo permanente de aperfeiçoamento da companhia.

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