São Paulo, domingo, 7 de maio de 1995
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Editor da "Science" quer mais artigos de brasileiros

CLÁUDIO CSILLAG
EDITOR-ASSISTENTE DE CIÊNCIA

A partir da semana passada, a maior revista científica do mundo tem um novo editor-chefe.
Um dos objetivos de Floyd Bloom, 59 anos, é aumentar a presença da ciência brasileira na "Science", publicada pela AAAS (pronuncia-se "tripol-ei-és, ou "triplo-a-s), a Associação Americana para o Avanço da Ciência.
Não vai ser fácil. Dos 6.600 artigos recebidos para publicação em 1994, só dois eram do Brasil. Ambos foram rejeitados, como, grosso modo, 90% do total.
Bloom diz que o baixo número de artigos brasileiros se deve à crença de que a "Science" só publica autores americanos.
Para mudar esta imagem, pretende estimular a participação de cientistas da América do Sul. Europeus e japoneses já participam tanto como autores quanto como revisores de artigos.
O prestígio e a importância científica da revista deve facilitar a tarefa de "conquistar" a América do Sul. Fundada há 115 anos por Thomas Edison, um dos maiores inventores de todos os tempos, tem uma tiragem de 160 mil cópias (485 para o Brasil).
Entre os avanços publicados no ano passado, estão a descoberta do gene do câncer de mama, a detecção dos primeiros planetas fora do Sistema Solar e o desenvolvimento de um colírio para detectar o mal de Alzheimer, além de vários outros noticiados pela imprensa.
Folha - Quais medidas podem ser tomadas para aumentar a presença da ciência da América Latina em "Science", um dos seus principais objetivos?
Floyd Bloom - O primeiro passo é conscientizar cientistas da América do Sul de que "Science" é um veículo adequado para relatar suas pesquisas. Há uma tendência em acreditar que "Science" é uma revista exclusivamente americana.
Durante os últimos anos temos tentado expandir o número de membros da AAAS pelo mundo e aumentar o número de revisores e autores de outros países.
Esperamos que, quando for apropriado, cientistas brasileiros também sintam a necessidade de se comunicar de forma mais ampla e queiram publicar seus resultados em nossa revista.
Folha - O sr. acha que a ciência brasileira não procura se comunicar de forma ampla, com a comunidade científica internacional?
Bloom - Fizemos uma busca dos artigos enviados e publicados no ano passado e não encontramos nenhum do Brasil.
Folha - Isso se deve ao baixo nível da ciência brasileira?
Bloom - É impossível saber, devido a ausência de artigos enviados. De acordo com minha base de dados, só houve dois artigos provenientes do Brasil em 1994. Dois de um total de 6.600 artigos.
Vamos fazer editoriais tentando descrever que tipos de critérios usamos para aceitar artigos.
O grau de novidade e de excelência são critérios óbvios, mas estamos querendo expandir nossos horizontes.
Por exemplo, se surgirem descobertas em parasitologia ou fisiologia ou oportunidades que só os cientistas de seu país ou de seu campo de observação têm, tentaremos fornecer orientação para os tipos de considerações a que o "paper" vai ser submetido.
Folha - Ao indicar em quais áreas, como a parasitologia, um pesquisador brasileiro tem mais probabilidade de ver seu trabalho aceito para publicação, não há o risco de tornar a ciência brasileira exótica?
Bloom - Parasitologia ou botânica não são campos exóticos. As pessoas do mundo todo se preocupam com a disseminação de toxinas, por exemplo.
Folha - Quantos artigos "Science recebe para publicação a cada semana?
Bloom - Em média, algo entre 150 a 200.
Folha - Quantas pessoas fazem a revisão desses artigos?
Bloom - Temos uma junta de 67 editores-revisores. Mas dependendo da área, temos outros cientistas que participam da revisão.
Folha - Quanto tempo leva para um artigo ser aprovado para publicação?
Bloom - Em média, para passar por duas revisões e pela edição, 18 a 20 semanas.
Folha - Além de dirigir o Departamento de Neurofarmacologia no Instituto de Pesquisa Scripps e agora editor-chefe da "Science", o sr. também é um neurocientista. O sr. tem tempo de fazer pesquisa?
Bloom - Passo cerca de um terço de meu tempo no laboratório com colegas, tanto no microscópio quanto no computador analisando dados. Trabalho em média 18 horas por dia.

O endereço eletrônico da "Science" é: science@news aaas.org

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