São Paulo, segunda-feira, 8 de maio de 1995
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PC fez empréstimo 'para compra da Vasp'

HUMBERTO SACCOMANDI
DA REPORTAGEM LOCAL

PC fez empréstimo `para compra da Vasp'
Empresário alagoano obteve crédito de US$ 5 milhões no Citibank, em 1990, e financiou Wagner Canhedo
Documentos do Citibank obtidos pela Folha atestam que o empresário Paulo César Farias (o PC) pediu empréstimo de US$ 5 milhões para participação na compra da Vasp, empresa aérea estatal paulista privatizada em 1990.
PC repassou, em 10 de setembro de 1990, US$ 4,3 milhões desse empréstimo para a empresa Expresso Brasília, do empresário Wagner Canhedo, que adquiriu o controle acionário da Vasp.
Esse valor corresponde ao que Canhedo pagou naquele dia como primeira parcela da compra.
A privatização da Vasp foi investigada por uma Comissão Parlamentar de Inquérito em 92. A CPI suspeitava que PC fosse ``sócio oculto" ou até dono da Vasp.
A CPI não conseguiu provar, porém, uma relação entre os depósitos conhecidos feitos por PC a Canhedo e a compra da Vasp.
A CPI não teve acesso à época aos documentos obtidos agora pela Folha. Eles não constam do relatório final da comissão nem do relatório da subcomissão de bancos.
Em 10 de setembro de 1990, PC Farias conseguiu uma linha de crédito de US$ 5 milhões junto ao Citibank de São Paulo. A transação foi intermediada pelo Citibank de Miami, do qual PC era cliente.
A autorização para a operação veio por telex do Citibank de Miami, que assumia todos os riscos.
Uma análise do pedido de empréstimo feita no Citibank de São Paulo também recomendou a concessão da linha de crédito.
A análise, assinada por Maria José Lotti, vice-presidente do banco, diz: ``Verbalmente nos foi informado de que os recursos serão aplicados para pagamento de um contrato de mútuo junto à Wagner Canhedo/Expresso Brasília referente à recente compra da Vasp."
No mesmo dia 10, PC abriu uma conta corrente em nome da EPC (número 05392675) na agência da av. Paulista. A conta recebe crédito de Cr$ 330.801.983,20 (US$ 4,3 milhões). PC então escreve ao Citibank pedindo a emissão de três cheques administrativos para a Expresso Brasília.
O pedido é feito a Maria José. A soma do valor dos três cheques equivale exatamente ao crédito recebido por PC do Citibank.
Os cheques são depositados em conta da Expresso Brasília no Banespa, agência Aeroporto de Congonhas. Canhedo os endossa.
Nesse dia 10 de setembro, Canhedo teve de pagar a primeira parcela da compra da Vasp, no valor de Cr$ 330.801.983,20. Essa cifra corresponde até nos centavos ao depósito feito por PC.
No dia seguinte, 11 de setembro, PC recebe outro crédito, não-identificado, de US$ 6,5 milhões na conta no Citibank.
A CPI enviou vários requerimentos a Canhedo solicitando documentos sobre a compra da Vasp.
O ofício 113 pedia cópia dos cheques usados na compra. O ofício 133 pedia cópia do comprovante de pagamento. O ofício 144 pedia documentos sobre o movimento de recursos entre PC e Canhedo. O atual presidente da Vasp não respondeu a nenhum deles.
Em depoimento à CPI, em 11 de agosto de 92, PC negou saber que seus depósitos para Canhedo fossem usados na compra da Vasp.
Canhedo diz à Polícia Federal, em 23 de setembro de 92, não ter recebido US$ 7 milhões de PC para a subscrição para aumento de capital da Vasp. Os depósitos de PC já conhecidos pela CPI e o decorrente do empréstimo no Citibank somam US$ 7 milhões.

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