São Paulo, segunda-feira, 8 de maio de 1995
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Conflito industrializou o massacre e a escravização

RICARDO BONALUME NETO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Quem se assusta com os tutsis e hutus se massacrando aos milhares na África pode se lembrar que esse tipo de coisa foi moda na civilizada Europa faz meros 50 anos, e voltou agora com força na ex-Iugoslávia. A mesma Alemanha que adora Bach e Goethe criou fornos crematórios e câmaras de gás.
A Segunda Guerra inventou o massacre de civis e a sua escravização em escala industrial. A intolerância racial e ideológica nazista, mais a tecnologia moderna, resultaram em milhões de eslavos e judeus mortos pelos alemães.
No oriente, os japoneses fizeram massacres em grande escala na China e deixavam definhar e morrer os prisioneiros de guerra ocidentais.
Depois de um período em que se afirmou que praticamente tudo na guerra era culpa de Hitler e que os alemães tinham planos elaborados para tomar o resto do mundo, os historiadores começaram a chegar a noções mais realistas dos motivos da guerra, baseadas nos problemas socioeconômicos europeus, nos movimentos de massa e na história diplomática.
Mas mesmo hoje não há consensos. Ainda há marxistas que acham que tudo foi maquinação do grande capital, que tentou usar um líder megalomaníaco, mas não percebeu até onde ele iria.
Os tiros começaram em 1º de setembro de 1939, quando uma força alemã lastreada em divisões Panzer (blindadas) invade a Polônia, na primeira demonstração da Blitzkrieg (``guerra-relâmpago"). No dia 6 de outubro, tropas alemãs já haviam vencido toda resistência organizada.
Depois de quase seis meses parada, a máquina de guerra alemã ocupou a Dinamarca e começou a invasão da Noruega com tropas vindas por mar e ar em abril de 40.
Os Aliados anglo-franceses desistem de resistir no país quando começa no mês seguinte a invasão. Bélgica e Holanda são tomadas a caminho da França.
Depois de derrotar fragorosamente os Aliados anglo-franceses em maio, três quintos da França passam a viver sob ocupação alemã e o resto ficou sob governo de um herói da Primeira Guerra, o marechal Henri-Philippe Pétain.
A geografia salvou o Reino Unido. Cruzar o canal da Mancha é algo mais difícil que cruzar o rio Sena.
Os italianos, oportunistas, entram então na guerra, mas despreparados. Os alemães são forçados a enviar à colônia italiana da Líbia o general Erwin Rommel e o seu Deutsches Afrika Korps (corpo alemão na África) para impedir que os britânicos a tomassem.
No mar, os submarinos alemães começam uma guerra irrestrita contra os navios mercantes aliados com o objetivo de asfixiar economicamente o Reino Unido. Os navios de superfície da Marinha alemã eram em número bem menor que os da Marinha Real britânica.
O couraçado alemão Bismarck foi afundado em maio de 41 depois de uma caçada épica, mas não antes de afundar o cruzador de batalha britânico Hood.
O avanço do Eixo parecia irresistível. Iugoslávia e Grécia também foram tomadas, basicamente para garantir o flanco sul do planejado ataque à União Soviética.
Em 22 de junho de 41 a Alemanha invade a URSS. A chamada Operação Barbarossa foi o maior ataque terrestre da história. Envolveu três milhões de soldados e 138 divisões (das quais 19 blindadas), em uma frente que se estendia do Ártico ao Mar Negro.
Tudo era superlativo nessa luta. Leningrado ficou cercada até janeiro de 44, e mais de 500 mil habitantes morreram de fome. O Exército de Hitler perdeu o gás pouco antes de chegar a Moscou. Os soviéticos se mobilizaram e impediram a tomada da capital.
Enquanto isso, os britânicos continuavam sua pequena campanha na África do Norte. Sem ajuda, jamais teriam como voltar ao continente. Essa ajuda surgiu depois que, em 7 de dezembro de 41, o Japão atacaram a base americana de Pearl Harbor, no Havaí, e Hitler declarou guerra aos EUA.
Com isso, as duas guerras -aquela na Europa e a que se travaria no Pacífico- se juntaram para criar um conflito de dimensões mundiais. Foram duas guerras basicamente separadas, com poucos pontos de contato. O Japão só se renderia em agosto de 45
Sem poder pisar no continente antes de armar e treinar um grande exército, os Aliados ocidentais optaram por bombardeá-lo. Em 30 de maio de 1942, o primeiro grande bombardeio aliado atinge Colônia e destrói um terço da cidade.
Ainda se discute se valeu a pena o esforço gasto em bombardeios aéreos, que só afetaram a sério a indústria alemã com a guerra quase no fim.
O final foi primeiro desenhado em uma longa batalha, de agosto de 42 a fevereiro de 43. A rendição do 6º Exército alemão em Stalingrado foi um dos pontos de virada na guerra.
Pouco antes disso, na Batalha de El Alamein, os alemães foram brecados no caminho do Egito. Hitler nunca deu a devida atenção a essa frente. Se tivesse feito isso, poderia ter tomado o petróleo do Oriente Médio, criando sérias complicações aos Aliados.
Só em maio de 1943 que o norte da África foi liberado do Eixo, e para isso foi preciso um desembarque na África francesa, que viu a estréia dos exércitos americanos.
Em julho de 43, os alemães ainda conseguiram montar uma grande ofensiva contra Kursk, naquela que seria maior batalha terrestre da guerra. A derrota nessa Operação Cidadela fez com que a iniciativa de grandes ofensivas passasse aos soviéticos.
Enquanto isso, quase 500 mil soldados aliados desembarcam na Sicília e, em dois meses, a Itália capitula. Apesar disso, os alemães ocupam o país e a luta na Itália só se encerraria em 2 de maio de 45.
Com o desembarque das tropas aliadas na Normandia em 6 de junho de 44, o dia que passou à história como o Dia D, os alemães passam a ter de combater a leste e a oeste. Mesmo assim, resistiram às ofensivas aliadas até verem Berlim em ruínas em maio de 1945.

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