São Paulo, segunda-feira, 8 de maio de 1995 |
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Música atual é desinteressante, diz Davis
IRINEU FRANCO PERPETUO
Aos 68 anos, Davis pretende reger novamente no Covent Garden, a casa de ópera londrina que dirigiu de 1971 a 1986. Em entrevista exclusiva concedida de sua casa, o maestro falou sobre seus planos e sobre as apresentações em São Paulo, que acontecem em 19, 20 e 21 de junho no Teatro Cultura Artística. Sobre o Brasil, seu desconhecimento é total. ``Você está ligando de Buenos Aires?", perguntou ao saber que estava falando com um brasileiro. E se desculpou: ``O mundo é muito grande para que eu possa conhecê-lo inteiro." Folha - O sr. está vindo ao Brasil com a Staatskapelle Dresden. Qual sua relação com ela? Colin Davis - Ela é uma das maiores orquestras do mundo. Trabalho com ela há 14 anos. Eles ficaram isolados durante muito tempo. A orquestra era forçada a ter apenas músicos alemães e, com isso, desenvolveu uma sonoridade muito própria. Folha - O sr. volta ao Reino Unido numa época em que suas orquestras estão em crise. Davis - A London Simphony Orchestra nunca esteve em crise. É uma boa posição, tem dinheiro e reputação suficientes. O que afeta as outras orquestras é basicamente uma crise londrina. Há quem diga que cinco orquestras para uma cidade só é demais. Mas há trabalho suficiente para todas. Folha - Sua gravação da ``Sinfonia nº 3" de Beethoven, feita recentemente com a Staatskapelle Dresden, está sendo considerada a melhor de todos os tempos. O sr. pretende gravar todas as sinfonias de Beethoven? Davis -A integral das sinfonias já foi gravada e deve ser lançada ainda este ano. É uma idéia louca gravar Beethoven com tantos discos já existentes no mercado. Mas peguei a orquestra com maior tradição na Alemanha, tocando com instrumentos modernos, para me opor a essa coisa nova de gravar Beethoven com instrumentos de época. Folha - Seu Mozart é tão elogiado que muitos o chamam de Sir Colin Mozart. Davis - Esse é um apelido que me honra muito. A música de Mozart é uma música antiga que fala para nós de uma maneira cheia de significado. Não tem nada a ver fazer Mozart com instrumentos antigos. Nós não vivemos no século 18, não sabemos como tocavam naquela época. Além disso, não há mais castrados hoje em dia. Folha - Por que o sr. não toca mais música contemporânea? Davis - Toquei muita música contemporânea em minha juventude, quando dirigia a orquestra da BBC. O que acontece é que ela não é mais interessante, mesmo quando feita por um grande músico como Pierre Boulez. Trata-se de uma série de barulhos que ninguém consegue acompanhar. Alguns compositores, como os minimalistas, tentam reviver essa habilidade esquecida da música que é formar sentenças. O problema é que a música minimalista é muito tediosa. Folha - O que o sr. vai tocar no Brasil? Davis - Os concertos para harpa e flauta de Mozart, com solistas da orquestra, e a ``Sinfonia do Novo Mundo" de Dvorák. São grandes músicos, que têm muito a dizer. Há na música de Dvorák uma grande alegria -exatamente o que acontece na de Mozart. Texto Anterior: Paul Rodgers traz seu 'blues interativo' Próximo Texto: Allende termina livro sobre filha morta aos 28 Índice |
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