São Paulo, terça-feira, 9 de maio de 1995
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CIA via despreparo de militares

GILBERTO DIMENSTEIN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Um relatório produzido pela CIA dá uma visão pouco dignificante do movimento de 1964: derrubado o presidente João Goulart, os militares estariam despreparados para exercer o poder.
``Não se tinha um plano para operar o governo depois da queda do velho regime", registra relatório especial, de 1965, usando, mais adiante, a palavra ``confusão". O documento aponta ``excessos" logo no início do regime, ao analisar o confronto entre os militares de linha dura e os moderados, o que trazia a permanente suspeita de retrocesso.
Esses ``excessos" provocaram, segundo registrado na página três, uma ``caça às bruxas" logo em abril de 1964, com as investigações de corrupção e subversão comandadas pelos militares.
``Muitos inquéritos foram conduzidos sem efetivo controle federal e se tornaram uma caça às bruxas", afirma. Essa postura fez com que fossem feitas punições com base em frágeis evidências.
Os textos da CIA, mantidos nos arquivos da biblioteca Lyndon Johnson, no Texas, mostram que eram acompanhados com muita atenção pela chamada linha dura.
Esse segmento, comentava o texto, aproximava-se do então ministro do Exército, Costa e Silva, candidato à sucessão presidencial.
Os radicais eram apontados, no início de 1965, como um grupo minoritário e desorganizado. Mas, à medida que o tempo passava, os outros relatórios iam vislumbrando a possibilidade de derrota de Castello e o perigo de uma ditadura.
Em março, a CIA alerta que os radicais encontravam amplo apoio nos empresários, inconformados, por exemplo, com medidas fiscais e a proposta de reforma agrária. ``Muitos dos radicais acusavam que a política econômica e a proposta de reforma agrária eram socialistas", registrava.
O então governador do Pará, Jarbas Passarinho, depois ministro do Trabalho de Costa e Silva, lembra-se de ter ouvidos de oficiais a acusação de que Castello seria ``comunista". `` Eles viam no Costa e Silva a chance de colocar a revolução nos eixos, mas, depois, também se decepcionariam com Costa e Silva", comenta.
Os textos da CIA apontavam os seguintes generais como os principais dirigentes da linha dura: Mourão Filho, Moniz de Aragão e Alves Bastos.
``Um dos erros do Castello foi não ter demitido Costa e Silva", comenta o então ministro do Planejamento, Roberto Campos, hoje deputado (PPR-RJ).
Essa proposta era assumida abertamente pelo então ministro da Justiça, Juracy Magalhães, ex-embaixador em Washington. ``Todos queríamos a demissão de Costa", afirma Heitor Aquino, então assessor do chefe do Serviço Nacional de Informação, Golbery do Couto e Silva.
``Todos", no caso, significavam também o chefe da Casa Militar, Ernesto Geisel, e o ministro do Interior, Cordeiro de Faria. ``Castello não queria mesmo o Costa", afirma Passarinho.
Os relatórios da CIA mostram uma evolução diante de Costa e Silva. Primeiro era apontado como fiel aliado a Castello Branco e, poucos meses depois, irritado com o presidente. Costa e Silva, segundo o documento, estaria aborrecido com a falta de apoio à sua candidatura.
Passarinho tem uma visão diferente sobre a rejeição de Castello ao seu ministro do Exército: o problema não seria Costa e Silva, mas sua mulher, Yolanda Costa e Silva. ``O Castello tinha medo que Dona Yolanda montasse em cima dele", comenta.
Heitor Aquino, herdeiro dos arquivos de Golbery e Roberto Campos, têm visão diferente: viam em Costa e Silva um representa da linha dura, descomprometido com os planos liberais.
(GD)

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