São Paulo, terça-feira, 9 de maio de 1995
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Europa comemora vitória sobre nazismo

ANDRÉ FONTENELLE; ROGÉRIO SIMÕES
DE PARIS

ROGÉRIO SIMÕES
Líderes da Alemanha e dos países Aliados, que derrotaram os alemães na Segunda Guerra Mundial, sentaram-se ontem lado a lado para comemorar o cinquentenário do fim do conflito na Europa.
O presidente alemão, Roman Herzog, disse não ter dúvidas de que seu país foi responsável pela guerra. "Os alemães sabem hoje que o seu governo e muitos de seus próprios pais foram responsáveis pelo Holocausto e trouxeram a ruína para os povos da Europa, afirmou em Berlim (Alemanha).
O teatro onde falou a 1.400 convidados, o Schauspielhaus, não fica longe do local onde se suicidou há 50 anos o ditador nazista alemão Adolf Hitler, que liderou o país durante a Segunda Guerra.
O nazismo de Hitler, que propagava a superioridade da "raça ariana sobre todas as outras, planejou -e em parte executou- o extermínio em massa de judeus, ciganos e opositores políticos, que ficou conhecido por Holocausto.
As comemorações do fim da guerra que mais matou na história -cerca de 50 milhões, a maioria civis- começaram domingo em Londres (Reino Unido) e terminam hoje em Moscou (Rússia).
Oitenta delegações estrangeiras assistiram a comemorações ontem em Paris (França). Acompanharam a cerimônia no Arco do Triunfo e o desfile na avenida dos Champs- Elysées 60 líderes mundiais.
O Brasil foi representado pelo presidente da Câmara dos Deputados, Luís Eduardo Magalhães.
O presidente da França, François Mitterrand, comandou a cerimônia ao lado de seu sucessor, Jacques Chirac, eleito anteontem.
Na primeira fila, ao lado do vice-presidente dos EUA, Al Gore, do primeiro-ministro da Rússia, Viktor Tchernomirdin, e do premiê britânico, John Major, estava o chanceler alemão, Helmut Kohl.
Mitterrand depositou uma coroa de flores no túmulo do Soldado Desconhecido e respeitou um minuto de silêncio.
"Tendem a pensar que os jovens se desinteressam. É mentira, disse o general Jean Ortoli, que estava em Stuttgart (Alemanha) como tenente em maio de 45.
Ele recorda o contato com soldados brasileiros, na campanha da Itália: "O Brasil poderia pensar que a Europa era longe, mas preferiu lutar pela liberdade.
O presidente francês, que sofre de câncer na próstata em estágio avançado, ofereceu às delegações convidadas um banquete no Palácio do Eliseu. Um dos vinhos servidos era da safra de 1945.
Alemanha
Al Gore (EUA) disse que o dia representava a vitória do bem sobre o mal. "Não apenas a vitória na Europa, mas a vitória para a Europa, afirmou.
O final do comunismo também foi lembrado. "Fascismo e comunismo ficaram para trás. Os maiores inimigos da razão estão derrotados, disse o britânico Major.
Mas o russo Tchernomirdin foi cauteloso ao saudar as novas relações com o Ocidente. "Não foi fácil se livrar da Cortina de Ferro e do Muro de Berlim, disse.
O muro dividia ao meio a cidade alemã até 1989. Sua queda simbolizou o fim da Guerra Fria que opôs a URSS aos EUA após 1945.
A cerimônia berlinense terminou com o hino alemão cantado sem as palavras "Deutschland ber alles (Alemanha acima de tudo), que simbolizaram as teses nazistas de superioridade racial.
Ignatz Bubis, líder da comunidade judaica alemã, praticamente exterminada pelo nazismo, elogiou a construção de um museu do Holocausto na cidade.
Reino Unido
Em Londres, as ruas foram tomadas pela população. No terceiro e último dia comemorativo do "VE Day (Dia de Vitória na Europa), a cidade foi palco de shows ao ar livre e queima de fogos.
A grande personagem foi Elizabeth, 94, a rainha-mãe, que repetiu o gesto que marcou as festividades pela vitória sobre o nazismo.
Com as filhas, a rainha Elizabeth 2ª e a princesa Margaret, a rainha-mãe surgiu de manhã na sacada do Palácio de Buckingham diante de mais de 200 mil pessoas.
Na mesma sacada, há 50 anos, ela havia aparecido ao lado das filhas, do rei George 6º e do primeiro-ministro Winston Churchill, para celebrar o "VE Day.
Ontem, num palco montado na entrada do palácio, a cantora Vera Lynn apresentou várias músicas do tempo da guerra. Emocionada, a rainha mãe cantou com o público.
À tarde, uma nova cerimônia no Hyde Park fechou a série de eventos. A rainha Elizabeth 2ª esteve à frente de dois minutos de silêncio.
Em seguida, a rainha acendeu uma grande tocha no centro do parque e comandou uma queima de fogos no topo da torre da companhia telefônica BT, um dos pontos mais altos de Londres.
Rússia
Em Moscou, o presidente russo, Boris Ieltsin, discursou em cerimônia pedindo um novo modelo de segurança para o mundo.
Isolado no cenário internacional devido à intervenção militar na república separatista da Tchetchênia, Ieltsin alertou as nações ocidentais para a importância de seu país.

Com agências internacionais

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