São Paulo, quarta-feira, 10 de maio de 1995
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Táxi exige documento de 'suspeitos' em SP

MÔNICA GARDENAL
DA FOLHA NORTE

Táxi exige documento de 'suispeitos' em SP
Medida foi determinada pelo sindicato da categoria em Rio Preto; negros e 'cabeludos' terão que se identificar
O Sindicato dos Taxistas de São José do Rio Preto (451 km a noroeste de SP) e região determinou ontem a taxistas da cidade que não transportem pessoas "negras, maltrapilhas, despenteadas, homens com cabelos compridos, que usem brincos, chapéu, boné ou roupas exóticas" que não se apresentarem com documento de identidade.
A medida faz parte da "Operação Taxista", que visa diminuir ataques contra taxistas na cidade.
Segundo o jurista Miguel Reale, 68, professor emérito da USP (Universidade de São Paulo), a medida constitui crime inafiançável por ferir o artigo 5º da Constituição Federal, que garante às pessoas o direito de ir e vir.
Para o advogado Fábio Konder Comparato, 58, professor do curso de pós-graduação em direitos humanos da USP, a medida não é crime. "A pessoa tem direito a escolher quem levar em seu carro."
O estudante Pedro Ramos de Oliveira, 20, que usa cabelos compridos e brinco, diz que a medida não ajudará a diminuir a violência.
"A aparência não significa nada. Há assaltantes que podem agir bem vestidos. Desta forma os taxistas vão perder passageiros."
Luís Roberto Magalhães Teixeira, 35, que é negro, diz não concordar com a medida. "Processaria o taxista e o sindicato se acontecesse comigo", diz.
No mês passado, o taxista Osvaldo Cicuto, 62, foi morto por dois passageiros em uma viagem.
Eles teriam assassinado o taxista com três tiros disparados a menos de um metro de distância no pescoço para roubar seu carro, um Fiat Uno cinza, ano 87.
"As pessoas suspeitas não serão transportadas se não apresentarem documento", disse o taxista Antônio Lopes Mendonça, 63, presidente do Sindicato dos Taxistas de Rio Preto.
Para a operação, a PM criou um "código secreto" que será utilizado quando o taxista suspeitar de algum passageiro. A Folha apurou que a comunicação será feita através de luminosos instalados embaixo das placas dos táxis.
Em caso de suspeita ou perigo para o taxista, ele acionará as dois luminosos através de um botão no painel do carro.
Para o taxista Antonio Evanildo Pinheiro, 32, o critério usado para identificar os suspeitos não é eficaz. "Aparência não determina nada."

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