São Paulo, quarta-feira, 10 de maio de 1995 |
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Bruno Barreto domina a técnica e chega a resultado minúsculo
FERNANDO DE BARROS E SILVA
A diferença para nós, brasileiros, é que o filme, realizado pela produtora Amblin, de Steven Spielberg, e interpretado por elenco estrangeiro do começo ao fim, tem a direção de Bruno Barreto, o mesmo diretor de ``Dona Flor e seus Dois Maridos" (1976). Nenhum mérito nisso. Barreto mais uma vez prova apenas que, com algum dinheiro, um pouco de estrutura e produção adequada, qualquer cineasta tupiniquim é capaz de contar uma historinha com começo, meio e fim sem fazer feio diante de seus pares nascidos na ``pátria do cinema". ``O Coração da Justiça" começa quando o escritor Austin Blair (Dennis Hopper, num papel que o desperdiça) é assassinado à queima-roupa por Elliot Burguess (Dermont Mulroney), um jovem de família rica que se suicida segundos após cometer o crime. Entra então em cena o repórter David Leader (interpretado por Eric Stoltz), um jornalista carreirista que desconhece escrúpulos no trabalho e em casa trata a mulher com a mesma atenção que se dispensa aos cachorros. Sua tarefa é explorar o caso e desvendar o crime com o único objetivo de aumentar a venda do pasquim sensacionalista em que trabalha. Como sempre em filmes deste tipo, a chave do segredo também aqui está depositada sobre uma ``mulher fatal", no caso a irmã do assassino, Emma Burguess, vivida pela belíssima Jennifer Connely. Ponto para Barreto. Será a partir de um punhado de fitas-cassete que Emma faz chegar às mãos do jornalista que o filme vai se desdobrando numa sucessão de mistérios e revelações cuidadosamente encadeados. O recurso narrativo usado por Barreto, alternando flash-backs e ações no presente, garantem aquela tensão óbvia, didática e novelesca que convém perfeitamente aos seus objetivos. Não é o caso de adiantar ao leitor o desfecho. Afinal, trata-se de um suspense. Antes disso, talvez seja mais útil relembrar o que dizia o crítico Paulo Emilio Salles Gomes no início dos anos 60, quando caracterizava a ``situação colonial do cinema brasileiro". Cinema de verdade, dizia ele ao descrever a forma de agir e pensar do público local, era o que vinha de fora, preferencialmente dos EUA, e não aquilo que se fazia por aqui. Cinema era aquilo que não sabíamos produzir. No essencial, nada mudou. O minúsculo resultado do filme de Barreto -tudo parece resumir-se a um punhado de técnicas enfim dominadas- torna quase irresistível o comentário de que estamos diante de mais uma situação colonial. Desta vez de segunda mão e com os sinais invertidos. Vídeo: O Coração da Justiça (The Heart of Justice) Direção: Bruno Barreto Elenco: Dennis Hopper, Eric Stoltz, Jennifer Connely Distribuição: Alphaview (tel. 011/725-6135) Texto Anterior: Jimi Hendrix canta o fim da era hippie Próximo Texto: "As Pupilas" vale como curiosidade Índice |
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