São Paulo, quarta-feira, 10 de maio de 1995
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Repensar a greve

A greve do metrô e dos trens urbanos paulistanos, ontem, deixou cerca de 3,5 milhões de pessoas sem transporte. A greve dos petroleiros, nos últimos dias, afetou o abastecimento de gás da população. A greve dos professores das escolas estaduais paulistas, encerrada há algumas semanas, resultou em perda de aulas e prejuízo no aprendizado de milhões de alunos.
Esses movimentos todos, bem como aqueles realizados noutras áreas como a da saúde, têm em comum o fato de diferirem de uma paralisação trabalhista habitual: causam dano não a um empresário específico, mas sim à população. Mais ainda, têm uma eficácia no mínimo duvidosa quanto a seus próprios objetivos.
Chegou a tal ponto a situação que o próprio Paulo Freire -um dos maiores educadores brasileiros e de notórios vínculos com movimentos de esquerda- questionou, no caso do sistema de educação público, a greve tradicional como instrumento de pressão.
É claro que não se trata, como o próprio Freire ressalta, de pretender que categorias de setores importantes para a população simplesmente deixem de lutar pelo que acreditam ser seus direitos e pela melhoria das suas condições de trabalho. Não foi de outra maneira que a maioria das conquistas trabalhistas no mundo do sistema de mercado foram obtidas. Mas tampouco parece razoável continuar a fazer com que a sociedade arque com o custo dessas lutas.
É o caso então de buscar novas formas de protesto e reivindicação para esses setores. A greve não é o único mecanismo à disposição dos trabalhadores. Além de passeatas e manifestações públicas, outras formas de pressão podem e devem ser pensadas, de modo a não prejudicar a população e até mesmo tentar informá-la das razões do movimento -sempre, evidentemente, dentro da lei e obedecendo às decisões da Justiça.
Uma mudança nesse sentido significaria uma grande evolução e amadurecimento do movimento sindical no país. Os cidadãos, retirados da incômoda posição de reféns em barganhas corporativas, agradeceriam. E, dado que os instrumentos usados hoje não vêm na sua maioria rendendo maiores resultados, mesmo os trabalhadores desses setores poderiam se beneficiar com uma mudança de estratégia, evitando antagonizar a população e, talvez, obtendo mesmo apoio social para suas demandas.

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